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Sob as bênçãos de Deus! – Capítulo 3




Habitualmente, o homem recebe a mulher como a deixou e no ponto em que a deixou no passado próximo, isto é, nas estâncias do tempo que se foi para o continuísmo da obra de resgate ou de elevação no tempo de agora, sucedendo o mesmo referentemente à mulher.[1]


Entramos no túnel do tempo e voltamos para a França Imperial, onde encontramos a bela fútil Leontina na roupagem de uma infeliz cortesã, que pôs fim a um casamento honrado para entregar-se a uma aventura criminosa com o Conde de Saint Clement, arruinando não somente a sua reputação, mas a própria saúde, diante dos muitos abortamentos praticados para encobrir a relação adúltera e, depois, nas sucessivas lutas expiatórias decorrentes dos abusos que cometera. Margot rolou pelas ruas de Paris, qual um farrapo humano, enferma, desesperada, enquanto Saint Clement continuava suas orgias, acobertado pela fortuna que fizera ao vender o título de nobre, pelo casamento com a filha de um rico comerciante. A condessa era uma mulher de temperamento forte e índole perversa. Não admitia, mesmo que o casamento tenha sido um arranjo, a infidelidade do marido. Foi descobrindo os relacionamentos adúlteros e pondo fim a cada um, mandando espancar as acompanhantes do marido, expulsando-as da cidade, a custo de ameaças de toda a ordem. Margot diante dos excruciantes sofrimentos que enfrentava e já as raias da loucura, ousou abordar Saint Clement em público, fazendo um escândalo e cobrando-lhe a responsabilidade pela sua desdita. Ah! Pobre Margot! Deveria saber que o poder do dinheiro silencia qualquer brado de consciência, pelo menos era assim que pensava a Senhora de Saint Clement, quando os criados informaram do episódio que era comentado em toda a corte. A mulher, ferida em seus brios, deu azo à maldade que se acentuava na constância do casamento e foi, ela mesma durante a madrugada, com seus criados, em busca da mendiga, ateado-lhe fogo, vingando-se da mulher, que durante muitos anos relacionara-se com seu marido, impingindo-lhe humilhação. Esse evento patrocinado por Margot/Leontina ainda hoje bradavam na memória emocional, no sentimento de repulsa que tinha pelo marido, o Senhor Monteiro, que não era outro senão Saint Clement reencarnado. Vingança torpe, desnecessária, pois a própria devassidão já estava a educar aquela alma com severos deslizes a reparar diante da vida.

Leontina/Margot não conseguira vencer a prova da sensualidade. Ao reencontrar Monteiro/Saint Clement, casado, mais velho do que ela, deveria ter considerado o respeito à família alheia, resgatando o atrito com a lei divina ao desmantelar a sua própria nos idos tempos da corte. Suas moléculas perispirituais estavam com a sutil bandagem do esquecimento, para que o aparelho genésico, tão afetado pelos abusos de antanho se recompusessem ante os sentimentos nobres que a vida lhe requisitava. Mas a escolha se repetiu, pois a insensatez de Leontina se somou ao desequilíbrio de Monteiro, fascinado pela sua beleza e, mais uma vez, uma família se desconstituiu pelas suas ações.

Leontina ainda recebeu, novamente, a bênção de ser mãe, e conquanto não interrompesse a gestação, porque lhe convinha financeiramente ter um filho com Monteiro, o afeto maternal não se desenvolveu, perdendo ela mais uma chance de curar as feridas abertas pelas ações equivocadas do passado e do presente.

No tecido quintessenciado do corpo fluídico a criatura imprime as consequências das suas ações, desencadeando desarmonias que clamam pela retificação na esteira do tempo, devendo aproveitar as bênçãos que a reencarnação lhe oferta, muitas vezes por meio dos reencontros desafiadores com os afetos enfermos do ontem, para o devido ajuste de propósitos, sublimação de sentimentos e progresso necessário.

A princípio, exposto aos lances adversos das aventuras poligâmicas, o homem avança, de ensinamento a ensinamento, para a sua própria instalação na monogamia, reconhecendo a necessidade de segurança e equilíbrio, em matéria de amor; no entanto, ainda aí, é impelido naturalmente a carregar o fardo dos estímulos sexuais, muita vez destrambelhados, que lhe enxameiam no sentimento, reclamando educação e sublimação. Depreende-se disso que toda criatura na Terra transporta em si mesma determinada taxa de carga erótica, de que, em verdade, não se libertará unicamente ao preço de palavras e votos brilhantes, mas à custa de experiência e trabalho, de vez que instintos e paixões são energias e estados inerentes à alma de cada um, que as Leis da Criação não destroem e sim auxiliam cada pessoa a transformar e elevar, no rumo da perfeição.[2]


A mendiga de ontem continuava em andrajos morais, experimentando as sensações efêmeras do luxo e da riqueza, acentuando nos refolhos da alma as tendências à superficialidade, atendendo tão somente à carga de erotismo desgovernada, que restabeleceu os liames com aos impulsos egoicos, que a arrastaram para a solidão afetiva, que tentava disfarçar no culto ao corpo, nas festas, viagens e em tudo o quanto a retirasse da esfera do relacionamento consigo mesma.

A condessa de Saint Clement, após longo período de sofrimentos na erraticidade, onde se arrependeu do crime que praticou contra a vida de Margot e também do abandono a que relegou o seu marido devasso, no final da existência, embora não lhe tenha negado os cuidados que à época eram possíveis em casos de loucura, consentiu em renascer e reencontrá-los, e assim se deu. Envergou as vestes simples da pobreza e se transformou na serviçal devotada – Emília - que experimentou o abandono de Leontina, que a lançou novamente nas chamas das provações, tendo desencarnado sem a assistência que a patroa poderia ter-lhe alcançado. Outra oportunidade que Leontina/Margot deixou passar, pois se outra fosse a sua atitude, poderia se transformar na benfeitora da sua algoz, protegida pelas bênçãos do esquecimento, e dessa forma galgar novo e importante patamar na sua caminhada de aprimoramento.


Referências: [1] XAVIER, Francisco Cândido; Emmanuel (Espírito). Vida e sexo. FEB - Federação Espírita Brasileira. Edição do Kindle. [2] XAVIER, Francisco Cândido; Emmanuel (Espírito). Vida e sexo. FEB - Federação Espírita Brasileira. Edição do Kindle.

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