Sob as bênçãos de Deus! - Capitulo 8
Pode-se considerar como missão a paternidade? “É, sem contestação possível, uma verdadeira missão. É ao mesmo tempo grandíssimo dever e que envolve, mais do que o pensa o homem, a sua responsabilidade quanto ao futuro. Deus colocou o filho sob a tutela dos pais, a fim de que estes o dirijam pela senda do bem, e lhes facilitou a tarefa dando àquele uma organização débil e delicada, que o torna propício a todas as impressões. Muitos há, no entanto, que mais cuidam de aprumar as árvores do seu jardim e de fazê-las dar bons frutos em abundância, do que de formar o caráter de seu filho. Se este vier a sucumbir por culpa deles, suportarão os desgostos resultantes dessa queda e partilharão dos sofrimentos do filho na vida futura, por não terem feito o que lhes estava ao alcance para que ele avançasse na estrada do bem.”[1]
O Espírito, ao renascer, traz as missões de que tem de se desincumbir, dentre elas a paternidade ou a maternidade como tarefa abençoada que o situa na condição de educador e educando, para desvelar as potencialidades.
Os compromissos assumidos pelas almas em seu mergulho no corpo estabelecem a trajetória mais adequada a sua evolução. Tal como os educadores no mundo, que se dedicam a aprimorar os métodos de ensino e aprendizagem, o Sublime Educador dispõe as técnicas e processos sensibilizadores que se amoldam às necessidades individuais, a fim de estimular o Ser a adquirir as qualidades que supram as transitórias carências de criaturas em aperfeiçoamento contínuo.
A leal servidora Dinah Rocha, com a sua larga experiência trazida dos labores da Educação integral na Terra, avaliava a evolução de Monteiro no tocante aos sentimentos que eram retomados diante das memórias ativadas que recordavam o tempo dedicado à educação da prole. Identificava com atenção os vórtices energéticos do perispírito onde essas vivências jaziam sepultadas por outras ocupações que o tempo foi acentuando em detrimento da missão da paternidade.
Enquanto a bondosa equipe de servidores projetava energias sobre o corpo sutil de Monteiro os aludidos vórtices iam pouco a pouco se reposicionando nas camadas da matéria quintessenciada, como se ocorresse um afloramento consciencial, o que se refletia de imediato no quadro emocional do paciente monitorado por Dinah.
Mendes acompanhava com atenção o que transcorria no laboratório. O ímpeto do jornalista que percebe a importância de cada detalhe dos fatos fez com que perguntasse:
- Abençoada irmã, qual a importância de, nessa fase da existência em que o nosso irmão se encontra, ativar as lembranças das faltas cometidas no desempenho da sua tarefa como pai? Terá ele oportunidade, ainda de reverter algum quadro, refazer algum vínculo nessa existência?
- Digno irmão! Sua pergunta devassa uma imensidão de conceitos, pesquisas, ensaios e conclusões que têm ocupado as nossas atividades e que são sobremaneira importantes para todos, pois sempre temos a nossos cuidados filhos da carne ou da alma, que nos requisitam compreensão, devotamento e abnegação em todos os tempos, da mesma forma que somos filhos de outros que nos envolvem com seu carinho e amor para que possamos transitar no carreiro da evolução. O olhar sobre os compromissos assumidos pelo Espírito necessita se estender à imortalidade, não se detendo nos marcos da encarnação/desencarnação. Por certo que as balizas da existência física são sobejamente importantes, tais quais os momentos de encontros que fazemos nas escolas do mundo, entre alunos e professores, onde se reforçam as metas e objetivos do aprendizado, estabelecem-se as ações e tarefas que sedimentam o conhecimento, mas que não bastam para que o conteúdo aprendido transforme o educando em um profissional competente, em um homem de bem. Devem contribuir para o êxito o labor dos demais atores com ele comprometidos e as suas próprias escolhas. No trânsito para Deus, que é o esforço vivencial de cada um para cumprir a Sua magnânima e sábia Lei, não é diferente, a reencarnação é um momento de ajustes, treinos, testes, avaliações, mas a faina evolutiva é permanente. Sim, amigo Mendes, não temos a certeza dos efeitos que essa metodologia produzirá em Monteiro, pois não devemos esquecer que a excelência do Mestre e de seu ensino passará sempre pelo filtro da liberdade de escolha de cada ser, a fim de que ele logre obter a coroa da vitória, quando vencer os seus desafios. Nosso mister aqui é facilitar a retomada de sentimentos e expectativas, bem como auxiliar na movimentação das engrenagens da vontade para que a paternidade volte a ser, no horizonte de Monteiro, um desafio que o seduza e mobilize as forças de profundidade da alma, visando os vôos gratificantes que o cumprimento do dever propicia.
- A orientação vertida dessa forma, demonstrada na vivacidade desses painéis fluídicos deixa tão transparente e lógica a importância da tarefa educativa dos pais, minha nobre irmã, mas no aturdimento que domina as mentes na carne, enoveladas no imediatismo e nas preocupações de sobrevivência, como acessar tais mecanismos que são manejados pelas equipes espirituais? Falo como pai que fui e ainda trago, muito latentes, as falhas que sei que cometi nesse terreno familiar.
Dinah olhou para o repórter que esboçava um viés de tristeza a lhe sombrear a face. Suspendeu a observação dos monitores e aproximou-se, maternalmente, segurando as mãos do servidor que trazia as suas anotações, como preferia fazê-las no bloco e com a caneta tradicional, que portava.
- Alto lá! Conheci um velho amigo evangelizador que dizia: “tristezas não pagam dívidas.” A alegria é a luz que deve nos conduzir os passos no serviço do bem. E servir ao bem é estar atento em todos os momentos para os convites da vida. Olhe em torno, quantas informações temos acessado e compreendido com mais intensidade? E quantas vezes tu terás o privilégio de lembrar aos nossos irmãos em caminhada na Terra as verdades que Jesus exemplificou há mais de dois milênios, conectando-as com as experiências que eles estão vivenciando.
- Mendes, nós somos imediatistas como falas, porque a rebeldia não nos permite sorver o néctar verdadeiro que as boas obras produzem. Nós evitamos a dor curadora, atraindo mais sofrimentos. Se a paciência, a compreensão e o diálogo com os filhos fossem priorizados em lugar das orgias regadas a alcoólicos, palavrões, superficialidades, viagens de fuga a paraísos afrodisíacos, relacionamentos fugazes e extraconjugais e excesso de trabalho minimizaríamos muitas das enfermidades mentais, da eclosão dos cânceres, das doenças degenerativas, porque as medicações espontâneas, produzidas pelas células, quando a perseverança nos planejamentos estabelecidos para a reencarnação se dá não são elaboradas, uma vez que o Espírito decide-se pela deserção e tal qual o servidor desidioso é, pela Lei, reposicionado em outras lutas que possam despertá-lo para a sua essência verdadeira, uma vez que Deus não desiste dos filhos pródigos.
- Estás dizendo que a paternidade consciente é um mecanismo de cura espiritual?
- É um método reeducador por excelência. Não podemos confundir cura espiritual com ausência de enfermidade física que por vezes sinaliza processo de expurgo, visto que granjeada em outras escolhas feitas. Porém, quantas atenuantes e moratórias têm recebido mães, pais, avós e outros educadores ante o cumprimento devotado de suas lides? A paternidade e a maternidade como todas as missões que trazemos são bênçãos para aprendermos a conviver e servir tendo como roteiro a mensagem de Jesus.
- E essa missão é atemporal, não é mesmo irmã? Meu velho e eu ainda temos muitas conversas, as quais há pouco tempo se agregou o meu filho e mesmo tendo se encerrado a nossa experiência na Terra, nos sentimos ligados por vínculos fortes que continuam nos amparado mutuamente e favorecendo o auxílio aos afetos que permanecem no mundo. Como entender o abandono a que muitas vezes são relegados os filhos em todas as fases da vida?
- A nossa avaliação sempre tende a dar relevo ao que deixamos de fazer, ao que perdemos e ao que negligenciamos e isto se assemelha ao velho método que tínhamos de grifar em vermelho as questões erradas nas avaliações escolares de antanho, marcando e ressaltando o erro. Como não temos o programa integral das trajetórias espirituais das famílias e das suas relações, confundimos a meta final com os patamares necessários e galgados ao longo do caminho e contabilizamos apenas a queda, sem percebermos os avanços intermediários que cada um realiza. A humanização da educação na Terra tem avançado para que o Ser receba o olhar sensível e individualizado que a lei divina estatui. Na educação integral a valorização dos pequenos progressos individuais recompõe a auto-estima, impulsionando a alma para a prática do bem. Quanto aos abandonos, por exemplo, o abandono na infância nas suas mais variadas formas é um atestado da recrudescência do egoísmo de pais e responsáveis, da degenerescência da sociedade que permite e se omite diante dos quadros cruéis da fome, da violência, da educação e da saúde deficientes, porém, às vezes, o gigantesco desafio de uma alma é não obstar a reencarnação de um ser que gerou, mesmo que de forma irresponsável. Assim, Mendes, cabe-nos trabalhar muito pela implantação do Reino nos corações, aproveitando todas as brechas que cada um ofertar para a sensibilização e o retorno ao caminho reto. Se assim procedermos, os anjos bons que nos acolhem em suas equipes nos apontarão os rumos e não nos deixarão faltar o apanágio das lides educadoras que todos precisamos.
O ambiente se impregnou de essências com suave aroma e diminutas partículas luminosas, percebidas apenas por Dinah, foram se derramando do Alto sobre os servidores ali presentes. Mendes sentia uma paz e uma alegria que o fez cerrar os olhos e agradecer a Deus por aquele momento de colóquio esclarecedor, enquanto Dinah voltava ao trabalho atento no mapeamento de desempenho do plano reencarnatório de Monteiro.
Referência: [1]Kardec, Allan. O livro dos Espíritos (p. 316). FEB Publisher. Edição do Kindle.
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