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Que aprendizagens?




Vinícius Lima Lousada[1]



O verdadeiro espírita não é o que crê nas manifestações, mas aquele que aproveita do ensino dado pelos Espíritos. De nada adianta crer, se a crença não o levar a dar um passo à frente no caminho do progresso e não o tornar melhor para com o seu próximo. - Allan Kardec[2]


Desde os primeiros tempos da pandemia do coronavírus temos nos perguntado se sairemos melhores desta situação. Será? A crise sanitária, notadamente conectada à crise ecológica de nossa época era uma crise anunciada. Não faltaram especialistas e lidadores da causa ambiental e lideranças dos povos originários que nos alertassem, nas últimas décadas, da necessidade de modificarmos a relação com a nossa casa comum: o planeta Terra.

Hoje, a questão ambiental é objeto de ações coletivas até mesmo de diversas religiões e não falta produção científica sobre o tema, em diversas áreas do conhecimento humano, para que nos conscientizemos da emergência climática e que os países, os mais ricos principalmente, precisam rever os seus padrões de consumo, superando dinâmicas de injustiça ambiental e adotar, com todos os outros, o cuidado com a natureza, considerando-a como sujeito de direitos e a vida como valor sagrado.

Mas, parece oportuno lembrar que, por trás da crise ecológica e sanitária está uma crise moral. Essa crise diz respeito justamente ao progresso moral das coletividades que está inextrincavelmente relacionado à natureza moral dos indivíduos.

Ano passado, andando pela rua com a minha filha ela observava a minha chateação com as imposturas de algumas pessoas nos espaços públicos ante os protocolos sanitários que, diga-se de passagem, são aprendizagens que exigem o mínimo de civilidade, ante todo o avanço intelectual e tecnológico dos seres humanos. Daí ela me lembrou algo que aprendeu na escola, em um projeto de formação de lideranças para crianças: o círculo de controle.

Dizia-me, ao seu modo, que não adianta nos agastarmos com o que está fora de nosso círculo de controle, ou seja, o nosso foco deve ficar em torno daquilo que está sujeito à nossa ação, que podemos mudar ou melhorar e, portanto, como não era possível mudar a atitude de certas pessoas, que eu me ativesse ao que estava ao meu alcance. Viveria melhor assim. Fiquei pensativo e agradeci o conselho.

Não podemos controlar o que os outros farão nesse momento de redução de casos de morte por Covid-19, de aceleração de vacinação e ante estruturados protocolos sanitários mundo à fora, todavia, podemos cuidar do que em nossa intimidade vem sendo desenvolvido, desde há muito, e das aprendizagens passíveis de serem recolhidas por nós mesmos, ante os desafios do presente.

Logo, cabe perguntarmos a nós próprios: que aprendizagens temos recolhido deste momento desafiante da pandemia e suas consequências na sociedade?

Antes, porém, é preciso fazer algumas considerações. Primeiro, vale lembrar que, quando os Espíritos falam dos flagelos destruidores e, entre eles, indicam a “peste”, estão se referindo a uma doença epidêmica que pode causar altos índices de mortalidade. Mas, é importante considerar que epidemia e pandemia não são palavras diferentes que definem a mesma coisa, não são sinônimos. Além da palavra pandemia nem aparecer em O Livro dos Espíritos, ela diz respeito à disseminação mundial de uma doença epidêmica que, por critério da Organização Mundial da Saúde, pode ser nomeada de pandemia pelo fato de estar presente, no mínimo em três continentes, mais ou menos ao mesmo tempo.

Epidemia e pandemia são fenômenos diferentes, e o segundo é a ampliação do primeiro em escala global, por múltiplos fatores, e a sua prevenção e manejo dependem da ação humana. Já, os flagelos destruidores, considerados em O Livro dos Espíritos (questão 741), dão-se à revelia da vontade humana e pela força mesmo das coisas, quer dizer, pelas dinâmicas da natureza consoante as leis que a regem. Entretanto, pode a humanidade amenizar as consequências destes flagelos por soluções técnicas e pela solidariedade.

A sutil diferença refletida acima não consiste em um preciosismo filosófico, é apenas uma observação estribada no que “exige a clareza de linguagem, (...)”[3], atenção que o Espiritismo procura dar aos temas que são-lhe objeto de estudo, desde Kardec.

Em segundo lugar, precisamos evitar o anacronismo na aplicação do ensino dos Espíritos. Não tinha, a civilização moderna em 1857, o mesmo impacto ambiental que temos atualmente. As áreas devastadas, a poluição nos ares e nos mares e a destruição de uma gama de habitats naturais não poderiam ser mensuradas na mesma intensidade ontem como atualmente. O sopro de destruição ambiental é muito maior em nossos dias. Além do mais, pandemias como a de hoje estão relacionadas com a imprudência e à ganância da espécie humana no manejo da natureza.

Então, que aprendizagens precisamos desenvolver e que estão ao nosso alcance para superarmos o quadro atual?

Considerando o círculo de controle, aquele que aprendi da Valentina, está nele a nossa própria natureza moral, formada pelas aquisições do Espírito Imortal que somos: virtudes e imperfeições, vícios e hábitos saudáveis e os nossos sentimentos. Que sentimentos inferiores precisam ser superados em nós? Que sentimentos enobrecidos necessitamos desenvolver? Que sentimento pode ser a antítese do egoísmo que está na causa de muitos flagelos fabricados pela humanidade contra si própria? O amor, sem dúvida!

E, nesse sentido, ensinam-nos os Espíritos Amigos algo que precisamos meditar com atenção:

A lei de amor substitui a personalidade pela fusão dos seres; extingue as misérias sociais. Ditoso aquele que, ultrapassando a sua humanidade, ama com amplo amor os seus irmãos em sofrimento! Ditoso aquele que ama, pois não conhece a miséria da alma, nem a do corpo. Tem ligeiros os pés e vive como que transportado, fora de si mesmo. Quando Jesus pronunciou a divina palavra – amor, os povos sobressaltaram-se e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo.[4]


Referências Bibliográficas: [1] Diretor da Área de Formação de Lideranças Espíritas – FERGS. [2] KARDEC, Allan. O espiritismo em sua mais simples expressão (e outros opúsculos). Trad. Evandro N. Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007, p. 51. [3] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. J. Herculano Pires, 2018. Paidéia. Edição do Kindle. Introdução ao estudo da doutrina espírita, item I. [4] KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 13. ed. – Brasília: FEB, 2019, p. 156.

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