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Reflexões sobre a criança

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Helena Bertoldo da Silva

Colaboradora da Área do Livro da Fergs

 

A criança é um Espírito imortal, que reencarna em uma nova roupagem corpórea frágil, com a memória do passado parcialmente adormecida. Carrega em seu íntimo inúmeras possibilidades que, para se manifestarem, necessitam de amor, presença dos pais ou responsáveis, limites e educação moral. O lar é a primeira escola; os pais e responsáveis, os primeiros professores.

O Espírito Emmanuel destaca a importância dos primeiros anos de vida:

 

Temos assim, mais ou menos três mil dias de sono induzido ou hipnose terapêutica, a estabelecerem enormes alterações nos veículos de exteriorização do Espírito, as quais, acrescidas às consequências dos fenômenos naturais de restringimentos do corpo espiritual no refúgio uterino, motivam o entorpecimento das recordações, para que se alivie a mente na direção de novas conquistas. E todo esse tempo é ocupado em prover-se a criança de novos conceitos e pensamentos acerca de si própria, é compreensível que toda a criatura sobrenade na adolescência, como alguém que fosse longamente hipnotizado para fins edificantes, acordando, gradativamente, na situação transformada em que a vida lhe propõe a continuidade do serviço devido à regeneração ou à evolução clara e simples. [1]

 

O coração infantil é uma lavoura abençoada à espera da semeadura dos valores morais contidos nos princípios espíritas, luarizados pelo Evangelho do Nazareno. É no ambiente do lar que se inicia a vivência da criança, tendo nos adultos os primeiros modelos e referências para a formação de hábitos e atitudes.

Muitos Espíritos reencarnam com o mérito de um lar harmonizado; outros, milhares deles, renascem em ambientes compatíveis com suas necessidades de crescimento moral, trazendo em si marcas do passado a serem reparadas.

Independentemente das condições em que se encontre perante a lei divina, toda criança merece cuidados e atenção. O período da infância é etapa decisiva do processo reencarnatório, em que o Espírito, mais sensível e receptivo, está particularmente aberto às orientações e influências daqueles que respondem por sua educação moral e espiritual. Sendo a educação a chave do progresso moral, educar desde os primeiros anos é primordial.

 

[...] os Espíritos têm que contribuir para o progresso uns dos outros. Pois bem, os Espíritos dos pais têm por missão desenvolver os de seus filhos pela educação. Constitui-lhes isso uma tarefa. Tornar-se-ão culpados, se vierem a falir no seu desempenho. [2]

 

Os Espíritos dos pais influenciam os Espíritos dos filhos, pois, como adultos da relação — pais e filhos —, são os primeiros personagens do início da vida do infante entre as quatro paredes do lar. A semeadura que fizerem no solo do coração infantil constituirá a base emocional da criança; os exemplos que fornecerem serão o alicerce para a formação do caráter dos filhos.

 

[...] A vida em família é onde iniciamos a aprendizagem emocional; nesse caldeirão íntimo aprendemos como nos sentir em relação a nós mesmos e como os outros vão reagir a nossos sentimentos; aprendemos como avaliar nossos sentimentos e como reagir a eles; aprendemos como interpretar e manifestar nossas expectativas e temores. Aprendemos tudo isso não somente através do que nossos pais fazem e do que dizem, mas também através do modelo que oferecem quando lidam, individualmente, com os seus próprios sentimentos e com aqueles sentimentos que se passam na vida conjugal. Alguns pais são professores emocionais talentosos, outros, são atrozes.[3]

 

Destacamos a importância de se educar desde cedo. Ainda que a memória passada esteja parcialmente adormecida, a criança manifesta, através das reações calmas ou abruptas, os instintos trazidos do passado. Será importante que os pais e responsáveis por ela tenham calma, forneçam bons exemplos, afinal, são eles os primeiros modelos de conduta que ela conhece.

 

A infância tem ainda outra utilidade. Os Espíritos não entram na vida corporal senão para se aperfeiçoarem, para se melhorarem. A fraqueza da tenra idade os torna flexíveis, acessíveis aos conselhos da experiência e daqueles que devem fazê-los progredir. É então que podemos reformar o seu caráter e reprimir seus maus pendores. Tal é o dever que Deus confiou aos pais, missão sagrada pela qual hão de responder. Assim, não somente a infância é útil, necessária e indispensável, mas, ainda, é a consequência natural das leis que Deus estabeleceu e que regem o Universo. [4]

 

A infância é útil, necessária para o reaprendizado do Espírito. No texto acima, destacamos pontos importantes: aperfeiçoamento, melhoramento, a brandura da tenra idade. Esse período requer atenção, cuidados, diretrizes retas, consciência da imortalidade da alma, vivência de espiritualidade e identidade de papéis na relação familiar. Tendo em vista que a criança precisa de exemplos morais positivos e que os pais devem estar preparados para esse mister. Cumpramos, pois, com amor e responsabilidade, essa missão divina. Ao educar nossos filhos com base no Evangelho, estamos colaborando com a regeneração da humanidade. O benfeitor Emmanuel enfatiza:

 

Quando Jesus nos recomendou não desprezar os pequeninos, esperava de nós não somente medidas providenciais alusivas ao pão e à vestimenta. Não basta alimentar minúsculas bocas famintas ou agasalhar corpinhos enregelados. É imprescindível o abrigo moral que assegure ao Espírito renascente o clima de trabalho necessário à sua sublimação. Muitos pais garantem o conforto material dos filhinhos, mas lhes relegam a alma a lamentável abandono. A vadiagem na rua fabrica delinquentes que acabam situados no cárcere ou no hospício, mas o relaxamento espiritual no reduto doméstico gera demônios sociais de perversidade e loucura que em muitas ocasiões, amparados pelo dinheiro ou pelos postos de evidência, atravessam largas faixas do século, espalhando miséria e sofrimento, sombra e ruína, com deplorável impunidade à frente da justiça terrestre. [5]

 

Não basta garantir apenas o conforto material, alimentando e vestindo o corpo; é fundamental também cuidar da alma, fornecendo-lhe os valores que promovem sua iluminação — amor, atenção, educação, limites, respeito, escuta sensível e bons exemplos. A presença dos pais e responsáveis no cotidiano da criança é vital para a formação do caráter. Muitos pais trabalham muito para, segundo eles, manter o sustento do lar. Destacamos, neste caso, que as diminutas horas junto ao infante, sejam horas de qualidade com atenção plena, carinho, olhar sensível, ou seja, que a criança sinta segurança, alegria, e receba as orientações necessárias à sua fortaleza moral. Os adultos desta relação funcionam como jardineiros que vão arrancando as ervas daninhas do orgulho e do egoísmo, de onde se originam todos os males.

O lar é o ninho que educa e oferece segurança. A criança relegada ao abandono dos verdadeiros valores torna-se vulnerável às influências negativas de toda ordem, pois os exemplos de vivência que ela observa nas ruas nem sempre são benéficos.

Nenhum Espírito renasce na Terra trazendo um “manual de instruções” para seu funcionamento. A paternidade e a maternidade são missões sagradas, que convidam os pais ao aprendizado constante no amor, na paciência e na responsabilidade espiritual.

Como educar? Como ser bons pais? A Doutrina Espírita oferece valiosas orientações para uma paternidade e maternidade conscientes, pautadas na luz do Evangelho de Jesus:


●     Compreensão espiritual da filiação:

Nossos filhos são Espíritos imortais, criados por Deus, estagiando em diferentes graus de evolução. Reencarnam sob nossos cuidados para aprender, reparar e progredir. Como pais, somos guias e orientadores, jamais donos. Cabe-nos oferecer o amparo e o exemplo que os auxiliem em sua jornada evolutiva.

 

●     Educação moral e evangelização no lar:

A base da verdadeira educação é a moral. A prática do Evangelho no Lar, realizada uma vez por semana, em dia e horário fixos, é ter Jesus em casa, fortalecendo os laços de amor e a harmonia familiar. Criar o hábito de boas leituras, as crianças podem ler livros infantis educativos durante a realização do Evangelho.


●     Vivência das virtudes cristãs:

A prática diária da paciência, do amor, da indulgência e do perdão é o melhor ensinamento que podemos oferecer aos filhos. Mais que palavras, é o exemplo que educa e transforma.


●     Prece em família:

A oração, hábito abençoado, fortalece os laços entre os corações, eleva o ambiente e atrai a proteção dos bons espíritos.


●     Estudo contínuo da Doutrina Espírita:

O estudo das obras fundamentais da Doutrina Espírita e a participação em grupos de estudos, oferecidos pelos Centros Espíritas, fortalecem o entendimento e a fé raciocinada, preparando-nos para melhor orientar nossos filhos.


●     Evangelização infantojuvenil:

Levar os filhos à Evangelização Espírita é oferecer-lhes uma base moral sólida e cristã, ajudando-os a conviver com Deus, com o próximo e consigo mesmo.


●     Parceria com a escola:

O lar é a primeira e mais importante escola do Espírito. À família cabe a formação moral; à escola formal, o desenvolvimento intelectual. A parceria entre ambas favorece o crescimento integral da criança.


●      Linguagem de amor e respeito:

A vivência da comunicação não violenta e do diálogo fraterno no lar reflete o Evangelho em ação, ensinando pelo exemplo a convivência harmoniosa e o respeito mútuo. “Os filhos, em qualquer circunstância, são espíritos que o Senhor nos confia, para que lhes ajudemos o aprimoramento e o progresso.” [6]

 

Cuidemos da criança, exercendo a paternidade com fé e equilíbrio, convictos de que a Providência Divina não impõe encargos acima de nossas forças. Que, sustentados pela oração e pela luz do Evangelho, possamos orientar nossos filhos com amor, firmeza e discernimento, auxiliando-os na construção de seus próprios caminhos evolutivos.

 

 Referências:

1. XAVIER, Francisco Cândido. Pelo Espírito Emmanuel. Religião dos Espíritos. 10.ed. Brasília, DF: FEB, 1995.

2. KARDEC, Allan. O livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 93. ed. Brasília, DF: FEB, 2013.

3. GOLEMAN, D. Inteligência emocional: a teoria revolucionária que define o que é ser inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.

4. KARDEC, Allan. Revista Espírita, ano II - fevereiro de 1859 - Dissertações de além-túmulo. A infância. Comunicação espontânea do Sr. Nélo, médium, lida na Sociedade em 14 de janeiro de 1859.

5.  XAVIER, Francisco Cândido. Pelo Espírito Emmanuel. Fonte Viva. 37.ed. Brasília, DF: FEB, 2016.

6. XAVIER, Francisco Cândido. Pelo Espírito Emmanuel. Vida e Sexo. Capítulo 14. 27.ed. Brasília, DF: FEB, 2016.

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