Em período de eleições: necessária reflexão
Pelo seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude de suas vistas, pela generalidade das questões que abrange, o Espiritismo é mais apto, do que qualquer outra doutrina, a secundar o movimento de regeneração; por isso, é ele contemporâneo desse movimento. (A Gênese, Cap. XVIII, item 25, Sinais dos Tempos) O Evangelho não se reduz a breviário para o genuflexório. É roteiro imprescindível para a legislação e administração, para o serviço e para a obediência. O Cristo não estabelece linhas divisórias entre o templo e a oficina. Toda a Terra é seu altar de oração e seu campo de trabalho, ao mesmo tempo. Por louvá-lo nas igrejas e menoscabá-lo nas ruas é que temos naufragado mil vezes, por nossa própria culpa. Todos os lugares, portanto, podem ser consagrados ao serviço divino. (Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, Caminho Verdade e Vida, Prefácio) A interação do espírita com a política sempre constituiu-se em tema desafiador à consciência. Especialmente nos períodos eleitorais, em que os pleitos político-partidários se intensificam, torna-se oportuno refletirmos acerca do quanto a Doutrina Espírita pode auxiliar-nos na conduta humana à luz da Lei Divina. Os laivos de poder temporal e as formas de dominação estabelecidas em bases materialistas serão sempre causa de sofrimento para o Espírito humano, o qual, obliterado pelo imediatismo, desconsidera que todos rumamos para a vivência do amor, da união e da fraternidade. Em sendo assim, nós, que somos adeptos do Espiritismo, guardamos o compromisso de observarmos, avaliarmos e agirmos no mundo pautando as nossas escolhas pelos valores imorredouros do Evangelho, aclarado e aprofundado pelo Consolador prometido por Jesus. Se, por um lado, não nos está interditada a atuação nos mais diversos postos de trabalho lícito em favor da sociedade, é fundamental que tenhamos a prudência e a lucidez de percebermos os mecanismos e interesses que norteiam ainda hoje muitos campos de atuação político-partidária; são nichos em que os interesses individuais e de determinados grupos ainda sobrepujam as necessidades coletivas e em que a liderança se estabelece muitas vezes como forma de servir-se mais do que de servir abnegadamente às demandas de evolução e bem-estar da grande família humana. Será sempre desafiador, conquanto necessário, a todo aquele que delibere por concorrer e atuar em cargos políticos – assim como nas demais profissões – considerar que a ética cristã lastreia-se em fazer tudo para o bem de todos (O Livro dos Espíritos, questão 629) e que o Evangelho é também a referência para a legislação e a administração, conforme assevera Emmanuel no texto que inaugura a presente reflexão. A interação de candidatos e eleitores com o Movimento Espírita durante pleitos político-partidários há de ser especialmente vigiada, a fim de que levemos dos parâmetros espíritas para a vivência no mundo a referência de conduta, e não engendremos o processo contrário, contaminando as nossas fileiras espíritas com os valores provisórios e infelizes que muitas vezes grassam nas disputas eleitorais. Cuidemos uns dos outros, com carinho e atenção, com fraternidade e vigilância, a fim de que não utilizemos o centro e o Movimento Espírita como meio de promoção pessoal. Todavia, não deixemos de acolher no trabalho e na convivência espírita os nossos irmãos que hajam decidido por enfrentar o hercúleo desafio das eleições para cargos políticos nessa hora grave da transição planetária. Estudemos juntos, dialoguemos sem preconceitos ou julgamentos, conduzamo-nos com assertividade e união a fim de que a máxima “Fora da caridade não há salvação” seja a tônica da nossa convivência, assim como o nosso mote de progresso ao secundarmos o movimento da regeneração. Desejando paz, discernimento, união e trabalho, subscrevemo-nos fraternalmente.
Gabriel Nogueira Salum
Presidente
Federação Espírita do Rio Grande do Sul
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