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Anotações sobre União



Vinícius Lima Lousada[1]


Se amais os que vos amam, que tipo de recompensa há para vós? Pois também os pecadores amam os que os amam. - Jesus (Mateus 6:32)[2]


Todo o bom livro espírita é comparável a uma lanterna que ajuda o viajor a atravessar caminhos com conhecimento do terreno onde pisa, permitindo localizar–se para, com prudência, prosseguir na jornada rumo ao destino anelado. Em nossos tentames espirituais o modo como atravessamos o caminho é tão importante quanto os resultados esperados. Pois bem, para além da exegese bíblica levada a bom termo em sua produção literária e seus clássicos romances, Emmanuel nos brinda com diversas obras que trazem lições oportunas a nós outros, espíritas que mourejamos voluntariamente no centro espírita, como também, nos órgãos de unificação.

Entre estas obras, todas de grande valor filosófico, que nos convidam à vivência de uma ética sadia em nossa Seara, encontramos o livro “Doutrina e aplicação”, publicado atualmente em uma parceria entre o Centro Espírita União e a Federação Espírita Brasileira. Ditada por Espíritos Diversos, seu prefácio data do final dos anos 80 e o livro tem por capítulo primeiro a mensagem “União” de Emmanuel e é em torno dela que gostaríamos de convidar o/a leitor/a a refletir.

Emmanuel começa o texto referindo o período de transição que vivemos e nos convida a ter em Jesus, o nosso Mestre, “o clima de nossa reconstrução espiritual”. Vale lembrar que somos Espíritos que jornadeamos, há muito, junto a diversas escolas da fé e, em algumas destas experiências confundimos religiosidade com religião, quero dizer, trocamos a aquisição dos valores espirituais básicos, inerentes à crença que nos direciona ao caminho do Supremo Bem, por formalismos e convenções socioculturais transitórias. Para muitos de nós, em vivências pregressas, religião significou busca por poder, relações de dominação, motivação para a guerra e violência ou cortina de fumaça para a má conduta, nas variações de “farisaísmo” em que já nos envolvemos e repercutem em dificuldades sobre nós mesmos, em nossas lutas por renovação e aclimatação ao Espírito de Verdade, onde o idealismo precisa superar a discórdia sob o risco deste ser desintegrado, como alerta o benfeitor.

Portanto, adequar-se ao clima do Evangelho é a proposta fundamental para que a nossa religiosidade produza alguma autoiluminação e possamos estabelecer união verdadeira em nossas fileiras. Para este propósito, como exercício, Emmanuel recomenda a multiplicação de assembleias cristãs, referindo-se às reuniões de estudos espíritas, tal como a em que ditava a mensagem da qual estamos pinçando algumas ideias. Tem razão o benfeitor, afinal, quando esclarecidos nos encontramos em condições de não errar por ignorância.

Ofertar luz ante à treva, amor ao ódio, o esclarecimento à ignorância e bom ânimo ao desalento é o programa de resistência ao mal que Emmanuel apresenta, sem desconsiderar que precisamos renovar o nosso coração ante tudo quanto recebemos em consolo e instrução da Revelação Espírita.

Desta forma, não podemos encarar o Espiritismo apenas como expressão fenomênica dos potenciais do ser integral, nem tampouco como um campo de discussões meramente teóricas ou de imposições dogmáticas. Já dizia Kardec, sobre a Doutrina Espírita, na sexta parte da Conclusão de O Livro dos Espíritos: “(...) Sua força está na sua filosofia, no apelo que dirige à razão, ao bom-senso. (...)” Por isso, estudá-lo, refletir sobre seus postulados e buscar a sua vivência no cotidiano é um exercício salutar, próprio de sua proposta de fé raciocinada que nos convoca à espiritualização na dinâmica de nossas vidas.

Nesse sentido, afirma Emmanuel:

Indagamos, estudemos, movimentemo-nos na esfera científica e filosófica, todavia, não nos esqueçamos do ‘amemo-nos uns aos outros’ como o Senhor nos amou. Sem amor, os mais alucinantes oráculos são igualmente àquele ‘sino que tange’ sem resultados práticos para as nossas necessidades espirituais.[3]


O amor é a essência da união na Seara Espírita. Sem amor, meus irmãos, estaremos somente atendendo a certos protocolos sociais ou simplesmente agindo conforme aqueles fariseus de ontem que viviam, como lembra Kardec, “(...) detestando-se cordialmente entre si, como acontece quase sempre.”[4] Assim, como herdeiros de uma tradição espiritual, o Cristianismo, historicamente demarcada por aqueles que “(...) tombaram nos circos do martírio por trezentos anos consecutivos (...)” aprendamos a amar para, paulatinamente, fazer dos algozes de ontem amigos hoje e, das almas cujos relacionamentos atuais carecem de alguma afinidade, um círculo positivo de simpatia e fraternidade pelo bem que nos compete estruturar na Terra.



Referências: [1] Vice-presidente de Unificação da Fergs. [2] O Novo Testamento. trad. Haroldo Dutra Dias. FEB. Edição do Kindle. [3] XAVIER, Francisco Cândido. Doutrina e aplicação. Por Espíritos Diversos. Brasília: FEB; São Paulo: CEU, 2022, p. 15. [4] KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. trad. Noleto Bezerra. 2a. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2013, Introdução, Parte III.

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