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Precisa-se de Líderes Educadores


Vinícius Lima Lousada[1]


Em nosso artigo anterior, para esta coluna, tivemos o ensejo de refletir sobre o contexto de crise transformadora que estamos vivendo à luz dos saberes espíritas, compreendendo os flagelos destruidores e as grandes transformações morais em curso no escopo da Lei Natural, estudada por Allan Kardec na terceira parte de O Livro dos Espíritos.

Com a compreensão dos mecanismos educativos das provas e expiações que provocam intensa inflexão sobre a nossa natureza moral, no momento presente, tivemos ensejo de ressaltar a urgência de lideranças educadoras, especialmente porque o flagelo do COVID-19, ao nosso ver, tem fomentado algumas aprendizagens indispensáveis à sua superação por parte da humanidade, entre as quais destacamos agora: justiça, amor e ciência. Tratam-se de virtudes necessárias à regeneração da humanidade também.

Essas três categorias são apontadas pelos Espíritos Superiores como indispensáveis à integração da consciência do Espírito para com a Lei Divina, portanto, para sua unidade com Deus[2]. Elas traduzem valores a serem adquiridos pelo ser mediante o progresso incessante a ser conquistado por esforço próprio, na superação de três paixões inferiores: a injustiça, o ódio e a ignorância.

Partindo da premissa de que a meta do Espírito, a cada reencarnação, é superar paulatinamente o domínio dessa tríade viciosa, passando a construir em si, pela autoeducação, a tríade virtuosa da justiça, do amor e da ciência, o líder educador é aquele que, antes de qualquer convite ao crescimento espiritual para os outros, assume um compromisso para consigo mesmo: educar os próprios sentimentos, ou seja, fazer florescer em si as virtudes do Espírito cônscio da Lei Natural.

Ademais, recorda-nos o confrade Jason de Camargo que: “O objetivo, portanto, da educação dos sentimentos é justamente este: chegar ao caminho das virtudes, desenvolver essa função psíquica de extrema utilidade para o ser humano e auxiliar nessa caminhada cheia de armadilhas.”[3] Aliás, creio que esta é a grande contribuição da Filosofia Espírita na transformação do mundo: mirar na melhora da natureza moral do indivíduo.

Então, como podemos compreender a virtude? O filósofo Aristóteles nos esclarece que


A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consistente numa mediania, isto é, a mediania relativa a nós, a qual é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática. E é um meio-termo entre dois vícios, um por excesso e outro por falta; pois que, enquanto os vícios ou vão muito longe ou ficam aquém do que é conveniente no tocante às ações e paixões, a virtude encontra e escolhe o meio-termo. E assim, no que toca à sua substância e à definição que lhe estabelece a essência, a virtude é uma mediania; com referência ao sumo bem e ao mais justo, é, porém, um extremo.[4]


Daí compreendermos que a virtude está no equilíbrio, está no meio. Nem no excesso, nem na carência. Mas, porque estamos falando disso? Estamos referindo a questão da virtude porque ao líder que queira prestar um serviço à sua coletividade (da local à global), promovendo pelo exemplo, processos educativos que conduzam a construção de uma sociedade pautada na aplicação das Leis Morais, em nosso entendimento, necessita construir esse processo em si próprio e desde já.

Justiça, amor e ciência são as virtudes fundamentais à regeneração do gênero humano que podem e devem ser apreendidas pela reflexão lúcida, pelo estudo e vivência modificadora da nossa relação com as paixões e vícios, de modo a efetuarmos em nós tal excelência moral que a virtude não será mais exceção.

O líder é educador no exercício de educar-se. Sua liderança começa na autoliderança, indispensável à construção de um caráter inspirador[5], que estruture laços de confiança duradouros que, por sua feita, permitam mobilizar os liderados, vistos por ele como líderes em potencial e com os quais pode alternar a liderança cedo ou tarde, por meio de seu caráter, devotamento e amor.

Lembremos que amar ao próximo é atender, em toda e qualquer ação, o nosso dever para com ele. E os Espíritos conceituam o dever da seguinte forma: “O dever principia, para cada um de vós, exatamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranquilidade do vosso próximo; acaba no limite que não desejais ninguém transponha com relação a vós.”[6]

Logo, o amor do líder pelos seus liderados, em equipes, organizações ou comunidades, é conduzido pela noção clara de dever. Suas ações, pensamentos, falas, projetos e trabalhos em equipe necessitam estar norteados pela felicidade ou tranquilidade do próximo, o que se consubstancia num deslocamento profundo de eixo, quando há muito, em experiências malogradas de liderança buscamos, nas vidas passadas, o proveito pessoal em detrimento do bem comum.

O mundo precisa de líderes educadores, que promovam valores novos bem ilustrados na tríade apresentada pelos Espíritos, através de suas vivências, para a construção cotidiana de uma pedagogia da espiritualidade, voltada ao desenvolvimento dos potenciais espirituais dos indivíduos através do caminho das virtudes, já delineado com clareza na moral proposta por Jesus, nosso Guia e Modelo.

A hora grave em que vivemos nos pede que nos tornemos melhores para melhor intervirmos na sociedade, sem projetos messiânicos ou proselitistas, mas, norteados pelo Espírito de serviço ao próximo que a legenda “FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO” expressa em sua plenitude.

Sigamos, de corações unidos, fraternalmente juntos e decididos em sermos justos, amorosos e sábios rumo à plenitude que se inicia na prática de amar e servir, porque o mundo precisa de líderes educadores.



Referências: [1] Coordenador do Setor de Formação de Lideranças Espíritas - FERGS. [2] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 1009. [3] CAMARGO, Jason. Educação dos sentimentos. 5. ed. Porto Alegre, 2010, p. 25. [4] ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco (Coleção Filosofia) (Locais do Kindle 614-619). Lebooks Editora. Edição do Kindle. [5] Vide o conceito de liderança abordado em: BARBIERI, Maria Elisabeth; SALUM, Gabriel. O líder espírita. Almerinda Terezinha. org. Porto Alegre: FERGS, 2015. [6] KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. cap. XVII, item 7. (Fonte: https://www.kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/887/o-evangelho-segundo-o-espiritismo/2514/capitulo-xvii-sede-perfeitos/instrucoes-dos-espiritos/o-dever)

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