O Bojador – avencemos, apesar de tudo – parte 2
Helil retorna ao vale de sombras quando reencarna como o Infante D. Henrique, no longínquo ano de 1394. Ao lado dele e sob suas ordens, inúmeros servos do Cristo acorreram para a espinhosa tarefa que permitirá vencer a perigosa travessia através do Oceano Atlântico. Dentre eles, Gil Eanes.
Gil Eanes nasceu em Lagos (distrito de Faro, região do Algarve) em 1395, um ano após a reencarnação de Helil e “habituou-se a ver o mar e a navegar nele. Estava longe de saber que um dia teria ousadia para desafiar medos e ficar na história dos Descobrimentos. Sendo navegador da Casa do Infante, em 1433 recebeu de D. Henrique a capitania de uma barca com o objetivo de dobrar o cabo que marcava o limite conhecido da costa ocidental africana. Partiu, chegou às ilhas Canárias onde fez alguns cativos, e regressou ao reino sem alcançar o Bojador, o grande obstáculo da navegação para sul” 1 .
O mundo conhecido acabava no Cabo do Bojador. Para além dele, o que nos esperava? Terras secas e desertas Correntes marítimas que não permitiriam nosso regresso? Ondas furiosas que destruiriam nossa pequena nau? Monstros mitológicos assustadores? O fim do mundo e a queda no vazio? Ou seria tudo isso junto?
“Muitos marinheiros arriscaram a perigosa viagem e falharam sempre. Diz-nos o historiador Damião Peres, com base numa carta régia do século XV, que ter-se-iam realizado 15 tentativas em 12 anos, nenhuma capaz de vencer o Bojador. Até 1434” 2 Obedecendo a ordens diretas do Infante D. Henrique, Gil Eanes e seu pequeno grupo de marinheiros retornaram ao Cabo do Bojador, pois:
“O infante D. Henrique estava convencido que o mundo não acabava ali e incitou Gil Eanes a fazer-se de novo ao mar . “Daquela viagem – escreve o cronista Gomes Eanes de Zurara – menosprezando todo o perigo, dobrou o cabo a além, onde achou as cousas muito pelo contrário do que ele e os outros até ali presumiam”. O escudeiro do infante dobrou o cabo e navegou algumas milhas além do Bojador, até angra dos Ruivos, comprovando a teoria do infante de que o mundo não acabava ali. Contudo, ao invés de chegado, colheu algumas rosas silvestres que trouxe consigo, as rosas de Santa Maria” 3
O mundo não mais seria o mesmo, pois suas fronteiras haviam sido alargadas de maneira nunca antes vista. O Bojador havia sido passado e a era das navegações iniciado. O período medieval ficava para trás e a idade moderna iniciava. Um feito espetacular. Um feito histórico.
Recomendamos um vídeo belíssimo que retrata o feito do Infante D. Henrique e de seu escudeiro Gil Eanes e está disponível em https://ensina.rtp.pt/artigo/gil-eanes-dobra-o-cabo-bojador/. Assista e emocione-se.
Por fim, pergunto ao amigo leitor: Valerá o nosso esforço passarmos o cabo do bojador das nossas dores e dificuldades? Descobriremos que o nosso cabo do bojador moral pode ser atravessado desde que tenhamos coragem, paciência e resignação? Que mundo maravilhoso e novo nos aguarda após o cabo do Bojador? Valeu a pena, sabendo que tudo vale a pena se a alma não é pequena?
Não nos esqueçamos de que “Deus ao mar o perigo e o abismo deu”, mas é no mar que Ele espelhou o céu. Avancemos em frente moralmente, apesar de tudo.
1 Fonte: https://ensina.rtp.pt/artigo/gil-eanes-dobra-o-cabo-bojador/ , acessado em 04/05/2022.
2 Fonte: https://ensina.rtp.pt/artigo/gil-eanes-dobra-o-cabo-bojador/ , acessado em 04/05/2022.
3 Fonte: https://ensina.rtp.pt/artigo/gil-eanes-dobra-o-cabo-bojador/ , acessado em 04/05/2022.
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