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Náufrago em Resgate, cap. 5



Permite Deus que entre vós se achem grandes criminosos, para que vos sirvam de ensinamento. Em breve, quando os homens se encontrarem submetidos às verdadeiras Leis de Deus, já não haverá necessidade desses ensinos: todos os Espíritos impuros e revoltados serão relegados para mundos inferiores, de acordo com as suas inclinações.[1]


Em apoio aos planos da espiritualidade, Luiz Fernando era um dos que sempre ia a todos os cultos, missas, pois era uma chance de sair da cela, uma vez que ainda não tinha permissão para o trabalho nas dependências da prisão.

As avaliações médicas diagnosticaram que ele foi acometido de um surto de raiva e não foi necessária a sua transferência para o Instituto Psiquiátrico, bastando apenas a medicação ambulatorial.

Magaldi, em sua labuta incansável no afã de impulsionar o seu protegido rumo ao entendimento do sofrimento expiatório causado pelos crimes cometidos inspirava os grupos religiosos que demandavam à prisão, assim como o retirava durante o sono físico para conversas das quais o rapaz não lembrava, porém guardava uma sensação de relativo bem-estar.

Em especial, as lições do Espiritismo eram tratadas nesses encontros na espiritualidade dos quais Toni também participava, e este sim, com uma sensibilidade extra sensorial bem aguçada, várias vezes referia a Luiz a lembrança de estarem em reuniões, durante o sono, com um homem bom, que emitia uma luz diferente, assim era como percebia Magaldi e os demais amigos espirituais em sua bondade e dedicação em atender aos necessitados de entendimento.

Naquela penitenciária havia uma equipe ligada à Colônia Maria de Nazaré, em razão de que alguns funcionários ali lotados haviam passado por extensos treinamentos, antes da reencarnação, nos departamentos do sistema de reclusão da referida colônia, dentre eles a Torre.[2]

Há séculos, o investimento do Alto se intensifica para que as penas sejam prescritas e aplicadas com a finalidade educativa, mesmo que se traduzam em restrições de liberdade e dos demais direitos, a sua execução deve ser expungida do caráter punitivo, o que tem sido tema de escolas dedicadas, no Mundo Maior, à formação dos aplicadores e executores da legislação penal no mundo, para que o combate ao crime atinja os resultados esperados e aguardados pela sociedade. Dirão alguns que apenas observando-se a ótica penal tem-se uma visão parcial da questão que envolve o crime. De acordo, mas se os lidadores da esfera onde deságuam as consequências do crime, compreenderem o seu verdadeiro papel, tornar-se-ão os agentes promotores de mudanças nas demais áreas a ela conexa.

Magaldi somou-se à equipe que era conduzida pelo irmão César, um notável filósofo penalista do passado, o qual tinha como diretriz de trabalho as lições recebidas na Torre, e amparava os grupos religiosos de todas as religiões que atuavam naquela casa de detenção. A essência de tais ensinos pode ser apreendida na leitura da obra citada e que sou autorizada a transcrever aqui:

“Pois quê?!... Vejo aqui um educandário, não uma prisão!... Rodeados de amplas janelas e belos e sugestivos balcões por onde penetram ventos sadios, desguarnecidos de grades e de sentinelas, estes aposentos convidam antes ao recolhimento, à meditação e ao estudo proveitoso, dado o silêncio inquebrantável de que se rodeiam... Oh! bem vejo a influência generosa de eméritos missionários educadores, afeitos à direção de instituições escolares, não carcereiros a se imporem pela violência!... — Sim — redarguiu, sorrindo, o nobre governador da Torre —, cumprimos os dispositivos das leis de amor e fraternidade, sob as normas essencialmente educadoras do Mestre magnífico. Realmente, não nos cumpre castigar quem quer que seja, por mais criminoso que se afigure, porquanto nem Ele o fez! Nosso dever é instruir e reeducar, levantando o ânimo decaído, o caráter vacilante, por meio de elucidações sadias, para a regeneração pela prática do bem!... pois que a punição, o castigo, o próprio delinquente os traz dentro de si, com o inferno em que se converteu sua consciência ininterruptamente conflagrada por mil diferentes aflições... o que dispensa atormentá-lo com mais castigos e represálias! Ele próprio é que se julgará e em si mesmo aplicará as punições que merecer... Quereis um exemplo vivo, dos mais sugestivos?...


Pode-se afirmar que no atual estágio de civilização que nos encontramos na Terra, o método apontado é inaplicável. Porém, o método não é a finalidade em si, mas diz com a aquisição da condição de educador que os envolvidos na custódia, escolta, capturas, proteções de unidades, monitorias, supervisões e todas as demais ações envolvendo essa área crucial para a evolução da terra se paute pela Lei de Amor, Justiça e Caridade.

Naquela unidade prisional era proibido o castigo físico. Alcebíades, o Diretor encarnado, já havia transferido e advertido alguns profissionais que desobedeceram a ordem. Egresso da Torre, onde esteve na última passagem pelo mundo espiritual, isso há mais de um século, o Diretor era tutelado de Olivier de Guzman, o coordenador geral das equipes espirituais encarregadas dos sistemas prisionais na América, que o assistia e inspirava em todas as ações. Era uma tarefa penosa, trazer aos internos os valores do Evangelho, não apenas nas pregações religiosas que ali eram realizadas, mas nas decisões administrativas, na postura profissional, no atendimento, na relação com os advogados e, sobretudo na manutenção do respeito ao ser humano, pois o crime é transitório na caminhada do Espírito imortal. Alcebíades não era religioso, condição esta que Olivier de Guzman[3] procurava estabelecer como um aspecto positivo para o trabalho junto a uma comunidade plural, nesse sentido. Embora sem o aspecto religioso o Diretor empreendia grande esforço para afirmar a ética, os bons princípios e os valores educativos para ambos os segmentos do presídio, tanto da grade para fora, quanto da grade para dentro, todos deviam ter a mesma diretriz de convivência, nos limites e responsabilidades de cada um.

Não era uma gestão simples, nem fácil. Enfrentava, seguidamente, as rebeliões dos agentes contrariados com as determinações e presidiários que buscavam se valer do trato humanizado para a obtenção de favores e até a trama de fugas com a complacência dos seus carcereiros. Faltava a autoridade moral aos educadores, embora as muitas lições ministradas pelos Benfeitores Espirituais, antes da reencarnação e mantidas no curso desta. Ainda bem que alguns poucos se mantinham fiéis na labuta para a superação dos instintos e das sensações de agressividade, edificando sentimentos melhores.

Nessa atmosfera, Luiz Fernando se beneficiava de influxos moralizadores que lhe eram ofertados com vistas a sua longa jornada de resgate.


Referências: [1] Allan Kardec. O evangelho segundo o espiritismo (p. 188). FEB Publisher. Edição do Kindle. Cap. 20. [2] Departamento descrito na obra Memórias de um suicida, psicografada por Yvonne do Amaral. FEB Editora. [3] Diretor do Departamento de Vigilância da Torre, na obra citada.


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