As crianças são naturalmente filósofas - Educação e imortalidade
Por Vinícius Lima Lousada,
Educador, escritor, palestrante espírita, coordenador do Setor de Formação de Lideranças Espíritas - FERGS
Outro dia, minha filha e sua amiga (ambas vem sendo educadas sob o pensamento espírita em seus lares e são participantes da evangelização espírita infanto-juvenil) conversavam enquanto eu me organizava para atender uma tarefa. De repente, fui surpreendido pela reflexão filosófica a que se dedicavam: as duas se perguntavam sobre se veriam ou não a regeneração da Humanidade nesta reencarnação. Fiquei quieto e sensibilizado, longe de mim interromper aquelas pequenas filósofas.
Quando cursei Pedagogia, no século passado, pesquisei Filosofia para Crianças e aprendi que as crianças são naturalmente filósofas, tendo em vista a curiosidade com que se movem no mundo. Nada obstante, as práticas educativas conservadoras no lar e noutras agências sociais que, às vezes não promovem uma pedagogia da pergunta e da responsabilidade, mas do silêncio e da obediência cega, que não ensina responsabilidade. Ou ainda, temos o outro extremo: a licenciosidade, que não promove autonomia, mas arrastamento às más paixões.
A criança, revelou-nos o Espiritismo na sua visão integral do ser humano, não é uma página em branco, mas, um Espírito imortal com longa experiência adormecida em detalhes, contudo, presente em sua aquisições, que se reembosca na carne para evoluir através das provas e expiações pertinentes ao seu programa reeducativo que a reencarnação promove.
Ensinam os Imortais a Allan Kardec sobre a importância da infância, na questão 383 de O Livro dos Espíritos: “Encarnando com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito, durante esse período, é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo.”
Logo, nosso filho ou filha reencarnaram-se com o propósito de aperfeiçoamento, quer dizer, adquirir virtudes, desenvolver a inteligência e superar suas imperfeições através da influência dos que receberam a missão de educá-los no lar, orientando-os no rumo de uma vida boa, no sentido de vida orientada pela sabedoria que, nesse caso, emerge do conhecimento da Lei Natural, especialmente, no campo da moral que deve ser ensinada pelo diálogo e exemplo.
A educadora Heloísa Pires teve oportunidade de definir que “Educar é despertar o homem cósmico.” Ela parte de um conceito cunhado pelo seu pai, o filósofo Herculano Pires, de que somos seres interexistenciais. Como Espíritos imortais que reencarnamos indefinidamente, tendo em vista o desenvolvimento da perfeição moral, não estamos de todo subjugados à carne na atual reencarnação. Nós interagimos, com maior ou menor consciência, de forma medianímica. Pois, os pensamentos e fluidos que produzimos, matizados por nossos sentimentos nos colocam em sintonia, através de uma rede fluídica, com Espíritos reencarnados e desencarnados. Interexistimos, uns com os outros, entre os planos da existência.
Dessa forma, é preciso acordar o Espírito que hoje chamamos de filho ou filha à sua própria essência espiritual para que, cônscio do sentido profundo de sua existência, passe a buscar o desenvolvimento de sua autonomia moral com vistas à vida futura, ou sem perder de alvo, a sua própria imortalidade e a felicidade que cerca, a partir deste plano mesmo, aqueles que buscam apreender a retidão conforme a bela síntese do Espírito Paulo, o Apóstolo: justiça, amor e ciência, aliás, três ferramentas de superação da injustiça, do ódio e da ignorância que nos prendem ao círculo das reencarnações em planos inferiores.
Mãos à obra!
Referências
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos, questão 383. Fonte: https://www.kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/2/o-livro-dos-espiritos/701/parte-segunda-do-mundo-espirita-ou-mundo-dos-espiritos/capitulo-vii-da-volta-do-espirito-a-vida-corporal/a-infancia/383.
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos, questão 1009. Fonte: https://www.kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/2/o-livro-dos-espiritos/3415/parte-quarta-das-esperancas-e-consolacoes/capitulo-ii-das-penas-e-gozos-futuros/duracao-das-penas-futuras/1009
PIRES, Heloísa. Educação espírita. 4. ed. São Paulo: Editora Paideia, 2009, p. 34.
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