A coragem para ser bom - cap. 7
Nivaldo e Fernanda, de maneira bem diversa da situação de Nice, após as preces e leitura do evangelho, adormeceram e emancipados pelo sono, eram recebidos por Carlos em um recanto de refazimento do grande complexo de trabalho edificado na espiritualidade. As emanações fluídicas oriundas das mentes evangelizadas, ali em trabalho, se espalhavam produzindo sensações de bem-estar, esparziam essências saturadas de perfumes destinados a relaxar as tensões e, sobretudo, inoculavam nos meandros da estrutura corpórea elementos para equilibrar o funcionamento de cada átomo integrante da organização sutil e da estruturação física.
Os tarefeiros em missões mais abrangentes na Terra, requerem esses instantes nos quais podem acessar a sua verdadeira essência, preparando-se para os rigores da luta.
Nivaldo sentiu o influxo do cuidado que lhe era destinado. O olhar se ampliou e pode contemplar-se com o perispírito emoldurado de cintilações emitidas pela entidade amiga a lhe amparar. Carlos recitava a passagem anotada em O evangelho segundo o espiritismo. Era como se a voz do benfeitor tocasse cada fibra da alma, imprimindo vigor e potencializando os recursos geradores de vida em plenitude.
Não há crer, no entanto, que todo sofrimento suportado neste mundo denote a existência de uma determinada falta. Muitas vezes são simples provas buscadas pelo Espírito para concluir a sua depuração e ativar o seu progresso. Assim, a expiação serve sempre de prova, mas nem sempre a prova é uma expiação. Provas e expiações, todavia, são sempre sinais de relativa inferioridade, porquanto o que é perfeito não precisa ser provado. Pode, pois, um Espírito haver chegado a certo grau de elevação e, nada obstante, desejoso de adiantar-se mais, solicitar uma missão, uma tarefa a executar, pela qual tanto mais recompensado será, se sair vitorioso, quanto mais rude haja sido a luta. Tais são, especialmente, essas pessoas de instintos naturalmente bons, de alma elevada, de nobres sentimentos inatos, que parece nada de mau haverem trazido de suas precedentes existências e que sofrem, com resignação toda cristã, as maiores dores, somente pedindo a Deus que as possam suportar sem murmurar.[1]
A mensagem produziu afloramento da lembrança da prova solicitada antes da reencarnação, ora trazendo novo ânimo a ensejar resistência às tentações. Na atmosfera do lugar, plasmavam-se algumas cenas do planejamento reencarnatório de Nivaldo, dentre elas, a conversa esclarecedora, mantida com o Espírito guardião a velar pela sua trajetória, há muito tempo.
- Meu amigo, nosso percurso pela Terra, detendo temporariamente grandes latifúndios, deu-nos a condição de experimentar a prova da riqueza e seu impulso no sentido de ampliar o sentimento de posse, qual se esses valores fossem de natureza permanente. Sorvemos o cálice amargo de carregarmos a missão de distribuir a caridade verdadeira, sem nos tornarmos pródigos ou avarentos. O drama consciencial de usufruirmos do progresso, fruirmos bem-estar e dividirmos com o próximo aquilo que nos cabe administrar é uma linha tênue e pode nos conduzir ao fosso do materialismo, ou nos fazer desperdiçar talentos concedidos para o progresso da humanidade.
- Portanto, Nivaldo, renascerás com o dever de trabalhar sempre para que esses patrimônios construídos outrora e muitas vezes aplicados a estágios improdutivos e sem utilidade sejam encaminhados para a destinação prescrita pela Providência Divina aos bens de empréstimo aos homens. Terás a missão de exemplificar em todos os momentos os valores da mensagem do Cristo, nosso Mestre, sem desânimo, sem concessões, sem te submeteres aos interesses do coração.
- Carlos, irmão querido! Parto feliz para essa nova etapa e rogo a Deus tenha a força, a fé e a coragem para vencer os múltiplos desafios que a integram – assentiu Nivaldo naquele momento decisivo da sua senda evolutiva.
Aqueles breves momentos de recordações produziam nas moléculas perispirituais e em decorrência no núcleo das células do corpo de Nivaldo transformações energéticas de vulto, identificadas pelos monitores instalados na sala onde ele e Fernanda estavam em atendimento.
De igual sorte a companheira amorosa também recolhia as benesses do momento para a continuidade do consórcio estabelecido como item importante do programa ali em andamento.
Na manhã seguinte, Nivaldo acordou com uma disposição renovada e as ideias fervilhando na mente, embora experimentasse a angústia em perceber os enfrentamentos que se avizinhavam.
Referência:
[1] KARDEC, Allan .O evangelho segundo o espiritismo (p. 93). FEB Publisher. Edição do Kindle. “Bem-aventurados os aflitos.”
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