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Sob as bênçãos de Deus - O início de novos tempos - Cap. Final




Assim, ilude a si mesmo o homem que considera as coisas de modo terra a terra, do ponto de vista material. Para as apreciar com justeza, tem de as ver do alto, isto é, do ponto de vista espiritual. Aquele, pois, que está de posse da verdadeira sabedoria, tem de isolar do corpo a alma, para ver com os olhos do Espírito. É o que ensina o Espiritismo.[1]


O ponto de vista que tecemos sobre a vida futura, como asseveram os bons Espíritos, são as balizas seguras para que saibamos atribuir a correta importância a tudo o quanto nos sucede durante essa breve estadia da encarnação. Sabendo e aceitando o princípio da imortalidade da alma as nossas concepções e ações deveriam sofrer uma modificação radical, pois seguros estamos de que a vida futura é tão somente a decorrência de cada momento presente em que vamos nos redimindo frente ao passado que ignoramos momentaneamente e construindo as estradas por onde transitaremos.

No entanto, sentir-se imortal e artífice da própria felicidade é uma travessia desafiadora que cada um empreende do território do conhecer aos domínios do sentir.

Os impulsos humanos ainda se estribam no imediatismo, e acompanhando os dramas de Leontina e Monteiro, de Jean e seus irmãos, de Emília, quem não anela por um desfecho feliz, ou por uma punição exemplar como se estivéssemos “maratonando” uma das séries da televisão, tão a gosto em nossos dias. Porém o que cabe considerar diante da imortalidade são os momentos e a sua riqueza, o aprendizado que deixam e as reflexões que oportunizam. As angústias experimentadas por grande contingente de criaturas têm suas raízes na ansiedade que impede a fruição do momento presente e a sua análise profunda, o experimentar das emoções e dos sentimentos que produz, bem como o estudo dos efeitos que trazem para a trajetória de cada um.

A pressa e a necessidade de espelharmos os modismos, as tendências, levam-nos a copiar as histórias alheias, desejando-as, esforçando-nos por reproduzi-las em nosso cotidiano e com isso nos tornamos seres vazios de experiência própria, perdendo o sentido existencial, o que nos afasta dos ditames da lei divina e nos joga nos precipícios da infelicidade.

Monteiro continua sob os cuidados da equipe de nossa querida irmã Dinah Rocha. Bem mais dócil do que Leontina, nos encontros na colônia onde frequenta em desdobramento faz as suas reflexões e acolhe com gratidão as lições ministradas. Sem os impedimentos do corpo em repouso, tece conversações educativas com os demais integrantes das turmas de atendimento e também com os filhos, sendo que Jean é o que mais se aproximou do pai, tanto nesses instantes durante o sono físico, quanto em vigília, visitando-o seguidamente na clínica.

Seus meios-irmãos ainda guardam grande ressentimento em relação ao pai, e que por certo serão desbastados nas provações pautadas para a evolução de cada um.

Certo dia, Monteiro que já estava afeito à visão espiritual nos momentos em que se liberava um pouco das amarras carnais, percebeu Mendes, sentado em um dos bancos sob as aléias floridas do jardim da colônia e aproximou-se, esboçando um sorriso largo.

- Mendes, você por aqui?

- Nobre amigo, tenho estado há algum tempo neste pouso abençoado de paz. Acompanho os seus progressos e recolho, com gratidão, as lições que emanam do seu proceder e da sua luta diante dos desafios que enfrentas.

- Imagine, meu caro deputado, o que alguém como eu, um ser falido, pode ensinar a tão ilustre personalidade. Sabes que sempre nutri por você uma admiração profunda, pelo seu trabalho, pela forma poética e refinada, sem deixar de ser simples, com que vazavas a comunicação. E muitas vezes te ouvi falar sobre as questões do Espírito, da alma e pensava comigo, que se você, um homem de uma cultura inigualável, dava crédito a esses assuntos, deveria ele conter algum fundo de verdade. Mas nunca tive a oportunidade, ou não a busquei, de estabelecer um diálogo sobre essas questões.

- Irmão Monteiro, primeiramente, esqueçamos os títulos e as funções do mundo. Como já sabes elas são oportunidades de serviço que se encerram no pórtico do túmulo e aqui nos trazem, muitas vezes, arrependimento e tristezas pelo mau uso que delas fizemos.

Monteiro sacudiu a cabeça, concordando.

- Mas o irmão parece estar muito bem adaptado aqui. Continuas fazendo reportagens? Como isso acontece? Aqui tem jornais? Televisão?

- Sou um estagiário, Monteiro, aprendendo como as coisas se processam quando desvestimos a toga do corpo. Tenho que as anotações que faço se constituem de uma metodologia de ensino para mim, ainda que as reporte a um ou outro médium encarnado.

- Explique-me melhor essa história. Você pode enviar mensagem para os vivos?

- Somente quando elas possuem alguma utilidade. Não tenho autorização para enviar qualquer notícia de cunho pessoal, ou que produza algum tipo de intranquilidade ou sentimentos menos dignos a quem ler.

- Interessante! É uma, vamos dizer... censura?

- Eu diria uma ação educativa. Fui consultado antes ser inserido nesse programa de trabalho. As almas rebeldes e ainda afeitas aos instintos, como eu, Monteiro, trafegam muito pelas vias do interesse pessoal e se deleitam em satisfazer os seus impulsos menos dignos sem contabilizarem os danos que causam ao seu semelhante.

- Mas e a liberdade de expressão não é um dos princípios mais propugnados pelas nações, como símbolo da civilização e do progresso?

- Sem dúvida, mas esse princípio tem sofrido transbordamentos e tem sido desvirtuado pela dose excessiva de egoísmo que se aninha nos corações humanos. Tenho percebido que quanto mais nos afastamos das querelas pessoais e buscamos a elevação dos interesses comuns, mais alcance, porquanto úteis, atingem as nossas ideias.

- Estou surpreso, Mendes! Quantas visões distintas das que eu percebia, tenho constatado nesses momentos aqui.

- Mendes ergueu-se e indicou a Monteiro o grupo que chegava – seus três filhos – para mais um encontro ou reencontro no carreiro da imortalidade.


Referências: [1] Ribeiro, Guillon. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB - Federação Espírita Brasileira. Edição do Kindle. (Cap. II, item 5.)

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