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Reintegrando-se, o retorno a casa do Pai

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    fergs
  • 1 de jul.
  • 5 min de leitura

“A vida espiritual pura e simples se rege por afinidades eletivas essenciais; no entanto, através de milênios e milênios, o Espírito passa por fileira imensa de reencarnações, ora em posição de feminilidade, ora em condições de masculinidade, o que sedimenta o fenômeno da bissexualidade, mais ou menos pronunciado, em quase todas as criaturas. O homem e a mulher serão, desse modo, de maneira respectiva, acentuadamente masculino ou acentuadamente feminina, sem especificação psicológica absoluta. À face disso, a individualidade em trânsito, da experiência feminina para a masculina ou vice‑versa, ao envergar o casulo físico, demonstrará fatalmente os traços da feminilidade em que terá estagiado por muitos séculos, em que pese ao corpo de formação masculina que o segregue, verificando‑se análogo processo com referência à mulher nas mesmas circunstâncias.” Capítulo 21 – “Homossexualidade” do livro Vida e Sexo, psicografado por Chico Xavier.

  

A partir de Emmanuel, podemos dizer que “o retorno do filho pródigo à casa do Pai” corresponde ao processo psíquico de integração da bissexualidade enquanto harmonia dessas potências do Espírito. Retornar à casa do Pai equivale a retornar à si mesmo pois ninguém será integrado se não experimentar essa bipolaridade de potenciais. O pai da parábola denotando firmeza e afeto, assertividade e ternura, representa muito bem o equilíbrio dessas polaridades integradas.

Jesus é melhor dos modelos. A figura do pai é uma alusão à figura do Cristo em si mesmo. Em todas as circunstâncias de Sua vida ele vivifica nas próprias atitudes o exemplo do que estamos falando.

O espiritismo desenvolve esse princípio embasando que essas experiências psíquicas vão se constituindo através das reencarnações sucessivas, pelas quais o espírito vai amealhando impressões que ficam inscritas no arquivo perispiritual. Essas experiências anteriores tornam-se parte do inato que cada criança traz consigo ao nascer, uma vez que cada criança é genuína exatamente por isso, mesmo nascendo no mesmo meio, são genuinamente únicas e singulares, porque as trajetórias anteriores são exclusivas e não se perdem. Através de milênios e milênios de experiências sucessivas na carne, que o Espírito se aprimora, passando por uma fileira imensa de reencarnações — ora em posição de feminilidade, ora em condições de masculinidade. Essa alternância sistemática e educativa é que sedimenta, paulatinamente, o fenômeno da bissexualidade psíquica, que se manifesta de forma mais ou menos pronunciada em quase todas as criaturas humanas.

O homem e a mulher, desse modo, são, respectivamente, acentuadamente masculino ou acentuadamente feminino, mas sem uma rigidez absoluta de especificação psicológica. A alma, em seu processo evolutivo, transcende a forma física que habita, e por isso, a individualidade que transita de uma experiência feminina para a masculina — ou vice-versa —, ao vestir um novo corpo carnal, demonstrará inevitavelmente os reflexos dos séculos anteriores em que estagiou na polaridade oposta. Ainda que o corpo seja biologicamente masculino, é natural que se revelem traços sutis — ou às vezes marcantes — da feminilidade cultivada anteriormente. Da mesma maneira, uma mulher poderá carregar sinais da energia masculina que experienciou em outras vidas, compondo uma realidade íntima complexa e legítima, que não se limita ao binômio homem/mulher no plano físico.

Desse modo, cada individualidade traz consigo, ao reencarnar, os traços sedimentados dessas vivências. A masculinidade e a feminilidade não são estruturas estanques ou absolutas, mas tendências dinâmicas, em gradações diversas, que espelham os estágios percorridos pela alma. Assim, a bissexualidade psíquica, termo moderno que Emmanuel aborda com antecedência e sob linguagem elevada, é expressão legítima do ser espiritual que amadurece em direção à plenitude.

A partir dos ensinamentos de Emmanuel, compreendemos que “o retorno do filho pródigo à casa do Pai”, símbolo sublime do Evangelho, corresponde também a um movimento psíquico profundo: o de integração das potências espirituais, da harmonia entre as energias feminina e masculina que residem em todos nós. O lar paterno da parábola representa, nesse sentido, o centro do ser, o ponto de equilíbrio onde o Espírito se reconcilia consigo mesmo, deixando de lutar contra sua própria natureza para, enfim, acolher-se como realmente é. Retornar à casa do Pai equivale, pois, a retornar a si mesmo — à inteireza do Espírito. Ninguém atinge o estado de integração e maturidade espiritual sem atravessar essa experiência de convivência interna entre essas polaridades.

A figura do pai, apresentada por Jesus com firmeza e ternura, com autoridade e doçura, é uma imagem arquetípica do Cristo, que em si mesmo reúne e expressa com perfeição essas duas forças. Em todas as circunstâncias de Sua vida, Jesus vivifica o equilíbrio dessas energias, não se impondo pelo autoritarismo nem se ausentando pela fragilidade, mas caminhando com lucidez, acolhimento, clareza e compaixão — virtudes que nascem da harmonia interior.

O Espiritismo nos fornece as chaves para compreender esse princípio, ao esclarecer que as experiências psíquicas vão se constituindo gradualmente através das reencarnações. O Espírito, ao viver múltiplas vidas em diferentes corpos e papéis sociais, vai colecionando impressões profundas que se inscrevem em seu perispírito, formando um registro duradouro. Essas marcas constituem o patrimônio íntimo de cada ser e acompanham-no vida após vida, surgindo como tendências, aptidões, inclinações e modos de sentir o mundo e a si mesmo.

Assim, o que muitas vezes é considerado anômalo ou estranho pela sociedade, é, à luz da reencarnação, apenas expressão legítima da individualidade em evolução. Cada criança que nasce traz consigo uma bagagem própria, feita de vivências únicas, que não se apagam. Mesmo filhos dos mesmos pais, criados no mesmo ambiente, até mesmo gêmeos univitelinos, são absolutamente singulares em sua expressão espiritual. Isso porque cada Espírito trilhou um caminho próprio antes de renascer, e esse percurso modela sua sensibilidade, suas preferências e sua forma de existir no mundo.

Compreender a bissexualidade psíquica, nesse contexto, é reconhecer que somos todos Espíritos em aprendizado, atravessando diferentes experiências para desenvolvermos a completude interior. A verdadeira cura do ser não está em se encaixar num modelo externo, mas em aceitar, compreender e integrar as forças que o habitam, promovendo o reencontro com o Pai que vive em nós — expressão do Amor, da Consciência e da Unidade Divina.

Em O Livro dos Espíritos esse assunto da bissexualidade é claro, ainda que não abordado com esse nome:


200. Têm sexos os Espíritos? “Não como o entendeis, pois que os sexos dependem da organização. Há entre eles amor e simpatia, mas baseados na concordância dos sentimentos.”


201. Em nova existência, pode o Espírito que animou o corpo de um homem animar o de uma mulher e vice-versa? “Decerto; são os mesmos os Espíritos que animam os homens e as mulheres.” (KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 93. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2013)

Allan Kardec, precursor da ciência da alma, registra com clareza essa verdade em O Livro dos Espíritos. Ao perguntar se os Espíritos têm sexo, recebe dos Instrutores Superiores a resposta: “Não como o entendeis, pois que os sexos dependem da organização.” E prosseguem, afirmando que há entre os Espíritos amor e simpatia, mas fundados na concordância íntima, e não na biologia. Além disso, confirmam que o mesmo Espírito pode animar, em diferentes existências, corpos masculinos ou femininos, conforme a necessidade evolutiva.


Aceitar essa realidade é dar um passo decisivo na trilha da compaixão e da compreensão. A integração das polaridades não é apenas uma meta psíquica, mas um imperativo do progresso espiritual. Não se trata de apagar diferenças, mas de acolher a complexidade do ser.

Voltar à casa do Pai, portanto, é mais que um retorno moral: é o reencontro com a própria essência — aquela que se construiu ao longo de eras, por entre as experiências da dor e do amor, do erro e do acerto, da queda e da superação.

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