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Qualidade interativa e perfil do agente inclusivo no TEA



Sonia Hoffmann

 

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) vem progressivamente sendo diagnosticado em crianças, adolescentes e mesmo adultos. Se refere a condições alteradas clinicamente persistentes e significativas na comunicação e interação de uma pessoa, como igualmente a padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados (em maior ou menor intensidade). Contudo, independentemente do motivo pelo qual alguém se encontra no espectro do autismo, é preciso sempre entender ser esta uma pessoa, um Espírito reencarnado, Espírito imortal em evolução, como um ser relacional em busca de oportunidade para conquistar seu progresso moral e intelectual no contexto familiar, social e cultural no qual se encontra.

Talvez sua maneira de vivenciar e chegar a tais obtenções nem sempre sejam compreendidas por muitos, pois há uma tendência da sociedade para rotular comportamentos e padronizar expressões de atitudes. Porém, é necessário refletir que talvez eles também não compreendam a maneira pela qual pessoas fora do TEA se comportem ou deliberem suas ações e interações.

Divagações sobre as possíveis razões causadoras do autismo, em determinada circunstância, pode ter uma contribuição imensa quando a intenção é verdadeiramente auxiliar quem vivencia o TEA a passar pelo processo. Entretanto, bem significante é transformar esta condição de aprendizagem em crescimento mútuo, maturidade coexistencial e desprendimento de convenções vazias ou sem sentido.

Por ser um espectro, não é possível determinar que esta ou aquela forma de relacionamento será sempre eficaz para com todas as pessoas vivendo o TEA. Portanto, generalizações devem ser abandonadas porque cada ser é uma individualidade, existindo uma diversidade de condutas, mas a escuta atenta, a observação profunda e isenta de preconceitos, a pesquisa do que vulnerabiliza, aciona intolerâncias (como ruídos, texturas, alimentos...), o conhecimento das ações ou comportamentos de autorregulação adotados por quem está no espectro do autismo (como o balanceio, cerrar os punhos, gritos...), a descoberta do que acalma e tranquiliza, a entrada apaziguadora no mundo da pessoa em lugar de drasticamente trazê-la para fora, a antecipação de acontecimentos e alterações (como organização de quadros de rotina, explicação prévia, objetiva e serena), o (re)conhecimento de atitudes de impulsividade, a apresentação de estratégias de habilidades sociais à pessoa com TEA são medidas fundamentais e eficientes para o começo de uma conexão produtiva e saudável se instalar.

A aplicação dos recursos disponibilizados pela Tecnologia Assistiva traz grandes contributos para a expansão e fortalecimento da participação e sentimento de pertencimento de alguém, pois ela desenvolve segurança e sentido de realizar com eficiência sua comunicação com as demais pessoas. Assim, algumas vezes, pranchas ou cards de comunicação precisam ser elaborados para facilitar o processo interativo e a mais fiel expressão possível do seu mundo interno (moral e até biológico).

Diversas são as intervenções que podem ser sinalizadas para interagir qualitativamente com alguém no Tea. Algumas individualidades precisam da ação direta de mediadores, enquanto existem outras pessoas que não sentem ou precisam destas mediações porque conseguem hábil ou satisfatoriamente lidar por si com a sua diferença e o impacto dela decorrente. Seja quem for a pessoa que acolhe ou interage com alguém no Tea, importante ter um perfil bem definido a fim de não criar constrangimentos ou dificultar sem nenhum benefício qualquer relacionamento. Então, é determinante as características e particularidades pessoais do agente inclusivo, muito mais do que somente a sua formação de especialista porque a interação com muito mais probabilidade se torna realmente exitosa quando está envolvida por sua estabilidade emocional e bem-estar empático.

Por tal razão, é indispensável que o interventor includente possa perceber suas reais condições e, caso haja necessidade, buscar o auxílio para desenvolver adequadamente o propósito da ação, pois alguns requisitos são importantes, quais sejam:

- Gostar do diferente e apreciar a diferença; colocar-se disponível;

- Ter imaginação e criatividade;

- Ser capaz de oportunizar, colaborar e dar sem ter a necessidade de receber agradecimentos diretos;

- Ter a coragem e a persistência de trabalhar mesmo sentindo-se "só no deserto"; buscar constantemente novos conhecimentos sem se satisfazer em permanecer somente com os adquiridos;

- Aceitar que cada pequeno ou grande progresso possa implicar novos desafios;

- Estar disposto a trabalhar em equipe;

- Ser humilde e prudente.

Em síntese, a aptidão para conviver e lidar com uma pessoa com autismo não depende exclusivamente da teoria, do estudo, de vários postulados: esse perfil e a habilidade têm seus fundamentos principalmente na possibilidade de aprendizagem angariada no convívio e no contato direto, no exercício conjunto e crescente da própria interação e na avaliação fidedigna dos seus resultados dentro de um ideal fraterno e solidário.

  

Referências:

BORGES, Maria de Fátima Pereira. Autismo - um silencio ruidoso: perspectiva empírica sobre o autismo no sistema regular de ensino. 2000. Almada, 2000. Tese (Curso Superior de Estudos Especializados em Educação Especial) - Escola Superior de Educação Jean Piaget de Almada, Almada.

TEIXEIRA, Gustavo. Manual do autismo. Rio de Janeiro: Best Seller, 2016. Recurso eletrônico.

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