top of page

Proseando com Kardec e seus convidados

  • Foto do escritor: fergs
    fergs
  • 1 de out
  • 7 min de leitura
ree

José Gilmar Vieira

Multiplicador da Área de Estudos do Espiritismo da Fergs


Com o objetivo de destacar a importância de estudarmos a obra “O que é o  Espiritismo”, motivados pela forte impressão de que [a obra] é pouco conhecida e estudada pelos espíritas, convidamos o leitor a fazer um breve passeio pelo conteúdo do Capítulo I, “Pequena Conferência”, especificamente nos dois diálogos, sendo o primeiro com o Crítico e o segundo com o Cético. 

Buscaremos identificar no jardim as flores que exalam os melhores perfumes do conhecimento da gênese do Consolador, sugeridas por Allan Kardec para aqueles que iniciam o estudo da Doutrina Espírita. 

No Preâmbulo, Allan Kardec apresenta os objetivos que o levaram à organização e publicação. Identifica-se a capacidade admirável de síntese do Mestre Lionês em tornar simples e acessível o conteúdo profundo da Doutrina Espírita. Vejamos os objetivos: 

Estes resumos não somente são úteis aos principiantes, que neles poderão, em pouco tempo e com pouca despesa, beber as noções mais essenciais da Doutrina  Espírita, mas também aos adeptos, pois lhes fornecem os meios para responderem às primeiras objeções que não deixarão de lhes apresentar, e, além disso, por encontrarem reunidos, em quadro restrito e sob um mesmo ponto de vista, os princípios que devem sempre estar presentes à sua memória.

Isto será, para o leitor, uma primeira iniciação, e, para nós, tempo ganho sobre o que tínhamos de gastar a repetir constantemente a mesma coisa. (KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo, Brasília: FEB, 2014) 


Encontramos pelo menos três objetivos da obra em suas observações: o primeiro é ser útil aos principiantes, pois terão contato com as noções da Doutrina Espírita em pouco tempo e com pouca despesa. 

O segundo é disponibilizar aos adeptos os meios para responder às objeções com um conteúdo dos princípios reunidos sob o mesmo ponto de vista, os quais devem estar já solidificados na consciência. 

Já o terceiro é um destaque na fala de Kardec, localizado na primeira página do Preâmbulo, onde ressalta que é também um ganho de tempo por dispensá-lo de repetir constantemente a mesma coisa. 

Podemos imaginar que um dos objetivos que levou a Kardec a publicar a obra “O Que é o Espiritismo” foi justamente pelo sucesso da publicação 1ª edição de 'O Livro dos Espíritos' em 18 de abril de 1857, aumentando consideravelmente a procura de interessados em tirar dúvidas, bem como a forte reação crítica dos operadores da ciência da matéria que não admitiam os resultados das pesquisas de Kardec, as quais deram origem ao Espiritismo. 

Cabe aqui destacar que é também oportunidade que o leitor e estudioso da Doutrina Espírita tem de conhecer o Codificador, ou seja: seu caráter, personalidade, capacidade intelectual, moral, bom senso; enfim, por conta própria, dir-se-ia uma  oportunidade de conhecer como se conduz uma alma superior. 

Para refletirmos sobre a importância de estudarmos esta obra, iniciamos nosso passeio no jardim em busca das flores perfumadas. Todas o são, mas há algumas que exalam perfumes mais profundos, pois são direcionadas a despertar nossas consciências como seres imortais em uma viagem evolutiva. 


DIÁLOGO COM O CRÍTICO 

No Capítulo I - “Pequena Conferência Espírita”, o Mestre Lionês, utilizando-se do diálogo como uma estratégia didática para facilitar a compreensão, nesta conferência, apresenta-nos primeiramente o diálogo com o personagem de um crítico. 

Ele revelará informações preciosas que servirão para aperfeiçoar nossa compreensão, meditação, sentimento e vivência da Doutrina Espírita. Identificamos sua preocupação no sentido de indicar como devemos proceder quando nos depararmos com indivíduos com este comportamento, diante dos fundamentos da Doutrina Espírita. Kardec inclusive vai classificar mais tarde como materialista de sistema, caracterizado pela negação absoluta e com uma ideia preconcebida. 

O crítico, desde o início, deixa claro que sua razão recusava a realidade dos fenômenos atribuídos aos Espíritos, indicando-os como fruto da imaginação. E de forma orgulhosa, se manifesta como se estivesse dando uma oportunidade para Kardec, ao lhe permitir assistir a poucas sessões do fenômeno das mesas girantes para tentar convencê-lo, mas alerta: caso fosse possível. 

Este comportamento caracteriza alguém que não está disposto ao aprendizado da Doutrina Espírita, pois está defendendo sua razão e seu ponto de vista de forma absoluta, obstinado pelo orgulho na opinião que professa, mesmo diante de provas irrecusaveis.

O Mestre, de forma firme, mas calcado na caridade em seu tríplice aspecto: indulgência, benevolência e perdão; e com a fé pautada nas leis naturais, como progresso, causa e efeito, livre-arbítrio, entre outras, oportuniza ao Crítico continuar com suas convicções, sugerindo encerrar o assunto. 

Kardec, então, indicará um aprendizado: não devemos forçar convicções de ninguém. Contudo, quando pessoas que sinceramente desejam instruir-se solicitam esclarecimentos, devemos responder-lhes no limite dos nossos conhecimentos, o que deve ser um prazer e um dever. 

Não pretendo forçar convicção alguma. Quando encontro pessoas que  sinceramente desejam instruir-se e dão-me a honra de pedir-me  esclarecimentos, folgo e cumpro um dever, respondendo-lhes nos limites dos meus conhecimentos; quanto aos antagonistas, porém, que, como vós, têm convicções arraigadas, não tento um passo para delas arredá-los, atento a que é grande o número dos que se mostram bem-dispostos, para que possamos perder o nosso tempo com aqueles que o não estão. (KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo, Brasília: FEB, 2014) 


É neste momento que podemos constatar a grandeza intelectual e moral de Allan Kardec. Sua superioridade é visível quando se constata que há uma convergência no que ele pensa, fala e age. Eis a diferença de uma alma superior. Poderíamos até afirmar que conhecer, estudar e vivenciar Kardec passa pelo nosso processo evolutivo como seres imortais que somos. 

Na sequência, o Crítico se dirige a Kardec com aspereza em sua fala, questionando se haveria realmente mais interesse em convencê-lo, exigindo franqueza e justificando que criticava ideias e não a pessoa. 

Eis a resposta no ponto certo, buscando já demonstrar a vivência dos postulados da Doutrina Espírita: 

O Espiritismo me tem ensinado a desprezar essas mesquinhas suscetibilidades do amor-próprio e a não me ofender com palavras. Se as vossas expressões saírem dos limites da urbanidade e das conveniências, apenas concluirei que sois um homem mal-educado, mas não irei além.".(KARDEC, Allan. O que é o  Espiritismo, Brasília: FEB, 2014) 


E, neste momento, é como se houvesse uma confissão por parte do Crítico, que já não mais escondia sua intenção e declara a Kardec que, na realidade, considera os fenômenos espíritas um erro. 

Revela que escreveria um livro que teria grande alcance e, com a intenção escancarada, daria então um golpe certeiro no Espiritismo. Poderíamos acrescentar: o lobo com veste de cordeiro se revela. 

E, por derradeiro, novamente busca induzir Kardec e tentar convencê-lo: se tivesse êxito, não publicaria o livro. Vejamos a resposta do Mestre, firme, clara e objetiva:

Eu sentiria que ficásseis privado do que vos pode proporcionar um livro que deve produzir tanto efeito; além disso, não tenho interesse algum em impedir a sua publicação: ao contrário, desejo-lhe grande circulação, porque assim ele nos servirá de prospecto e anúncio.(KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo, Brasília: FEB, 2014) 


Na continuidade do diálogo, podemos destacar que Allan Kardec apresentará cada  vez mais argumentos sólidos. No sentido de que, quem deseje conhecer a nova ciência, desde que esta vontade esteja além da simples curiosidade, deverá instruir-se pela teoria, primeiramente lendo e meditando as obras que tratam dessa ciência; buscando assim conhecer os princípios, encontrando a descrição de todos os fenômenos que possibilitem  uma compreensão mais legítima. 


DIÁLOGO COM O CÉTICO 

Nesta fase do passeio no jardim desta maravilhosa obra, neste segundo diálogo, observaremos Kardec indicando, através de sua apurada didática, como devemos acolher e orientar aquele que procura conhecer os postulados do Espiritismo, mesmo sendo cético e declarando, já inicialmente, não ser a favor ou contra os postulados do Espiritismo. Sente, contudo, interesse no mais alto grau de conhecer, confessando total ignorância a respeito. 

Duas virtudes importantes do Cético podemos identificar neste início de conversa: a primeira é a humildade, quando diz ter total ignorância a respeito do Espiritismo; a segunda, a sinceridade na vontade de conhecer e estudar para depois chegar ao juízo de valor dos fundamentos do Espiritismo. Virtudes estas que não encontramos no diálogo com o Crítico no primeiro diálogo, justificando, assim, a diferença na estratégia de acolhimento de Kardec. 

E, no final, ele faz uma observação importante, externando que não tinha a pretensão de responder a todas as questões porque estava ainda no início de suas pesquisas nesta Ciência Nova, o Espiritismo, que tem caráter progressivo.

Neste ponto, o Mestre Lionês nos lança um perfume de suas sábias orientações: o adepto da doutrina deve ter esse cuidado de responder àquele que deseja conhecer o Espiritismo. Devemos acolher, orientar conforme os fundamentos da Doutrina Espírita e, mais importante, precisamos ser humildes, responsáveis e responder no limite dos nossos conhecimentos.

No entanto, neste segundo diálogo, vamos identificar também a metodologia  afinada de Kardec na organização dos temas para facilitar o estudo daquele que não conhece e deseja com sinceridade conhecer. Vejamos: ele distribui os temas numa sequência lógica. 

No início, destaca o imenso campo de abrangência do Espiritismo e, por isso, necessita de tempo, dedicação e estudo permanente para formar uma convicção de seus postulados a ponto de possibilitar um juízo de valor. 

Chamo a atenção do caro leitor para observar a sequência dos temas e o encadeamento e o desenvolvimento das ideias, o que facilitará o entendimento e também a forma de como ensinar. 

Reforçamos: esta é uma preocupação de Allan Kardec que se identifica nesta e nas demais obras organizadas e corrigidas por ele e ditadas e corrigidas pelos Espíritos superiores. 

No término do nosso passeio no jardim deste primeiro capítulo, limitando-nos apenas a estas resumidas observações retiradas dos dois primeiros diálogos, desejamos que o caro leitor se sinta motivado a continuar a visitar as páginas desta obra “O que é o  Espiritismo” em repetidos passeios por este jardim. 

Porque, pela importância do seu conteúdo, ainda ficou a maior parte do aprendizado a ser conhecida, meditada, sentida e vivenciada. Muitas primaveras, com certeza, precisarão para que o perfume deste conhecimento seja alcançado. E que sirva de ponte para possibilitar o estudo e aprofundamento nas demais obras fundamentais que compõem a base da Doutrina dos Espíritos. 


Referências: 

KARDEC, Allan. O que é o espiritismo. Preâmbulo, cap. 1: Pequena Conferência - Diálogo com o Crítico, Diálogo com o Cético. Brasília: FEB, 2014.

Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square

Fergs, um século de luz.

Correspondências:

Caixa Postal 4715

Floresta - Porto Alegre, RS

CEP 90220-975

Redes

Travessa Azevedo, 88 - Bairro Floresta - Porto Alegre, RS Fone: (51) 3224.1493

© 2025 Assessoria de Comunicação da Federação Espírita do Rio Grande do Sul

bottom of page