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A coragem para ser bom - cap. 5




As conexões que se processam na vida das criaturas têm suas nascentes nas vivências espirituais e nas intrincadas nuances do planejamento reencarnatório. O atavismo do binômio pecado e castigo nos conduzem a pensar nas nossas experiências sempre decorrentes dos erros cometidos e do plantio inadequado feito, sem contabilizarmos as muitas oportunidades de crescimento com as quais nos comprometemos na sagrada oportunidade de evolução.

Dizem os benfeitores da humanidade: o objetivo da encarnação para uns é uma expiação; para outros é uma missão. Sofrer as vicissitudes da vida corporal, conviver com o ambiente de crimes, mazelas, tormentos humanos faz parte do esforço de cocriação da criatura com o Criador, na sua jornada para a perfeição.[1]

Nivaldo estava inserido nessa condição de cumprimento da parte que lhe cabia para a obra da Criação, por isso as emoções das últimas noites dominavam-lhe a sensibilidade. Compartilhando com a esposa e seus dois filhos o fato acordou na memória de todos as lutas vividas quando tiveram de deixar tudo para trás e buscarem um novo lar.

- Eu não acredito, vai começar tudo outra vez, pai. Parece que estas coisas perseguem a gente – falava Nice, a filha de Nivaldo - por que tu não ficas fora disto? Parece gostar de confusão. Deixasse esse homem ir embora, não era o que ele queria, afinai?    

- Ah, Nice! Tu não conheces o pai? Capaz dele deixar passar a ocasião de ser a palmatória do mundo. Essa conversa de dignidade, de verdade cansa. Só ele faz isso e depois a gente paga o preço – debochava Valdinho, o filho mais novo, visivelmente embriagado.

- Meus filhos, eu não negocio com a minha consciência. O mal é sempre o mal e o bem é o bem. Lamento se não consigo transmitir a vocês essa convicção. Se nos acumpliciamos com o erro, colhemos os respingos dessa atitude. Sou um homem cristão e o Espiritismo é a minha profissão de fé. Ele ensina o quanto somos responsáveis por todos os nossos atos e omissões. Se eu não faço o bem, filhos, respondo por todo o mal causado pela minha omissão.

- Ah, pai! Francamente – esbravejou Nice, de forma desrespeitosa - essa conversa já encheu. Sempre a mesma coisa. Enquanto eu e o Valdinho não morrermos também, você não vai parar com essa história.

Nivaldo sentiu um baque surdo no estomago e cambaleou, segurando-se na cadeira a sua frente.

Fernanda adentrava a sala no momento e correu para socorrer o marido. - Valdo, o que houve? - Voltando-se para Nice e Valdinho falou com veemência: – chega! Respeitem o pai de vocês. Saiam daqui. Agora.

- Meu amor, sente-se, vou ver água para você. Já devias estar acostumado a essas investidas dos nossos filhos. Eles têm visões de mundo bem diferentes da nossa, mas isso convida-nos a perserverarmos. O exemplo das nossas lutas um dia deve dar frutos

- Eu sei Nanda, mas quando eles falam da morte do... - e prorrompeu em pranto, sendo abraçado pela mulher.

- Precisamos estar fortes, Valdo, pois sinto que a luta recomeça e a fé não pode vacilar. Vou apanhar o Evangelho para juntos nos ligarmos ao Alto e recolhermos as intuições abençoadas.

Em torno do casal, as entidades amigas, numes tutelares da família sintonizavam, emitindo vibrações de encorajamento e lucidez, enquanto Nivaldo abria o evangelho na página “Bem-aventurados os aflitos”, lendo a mensagem de São Luis em resposta à indagação do insigne Codificador:

Se um homem se expõe a um perigo iminente para salvar a vida a um de seus semelhantes, sabendo de antemão que sucumbirá, pode o seu ato ser considerado suicídio? Desde que no ato não entre a intenção de buscar a morte, não há suicídio, e sim, apenas, devotamento e abnegação, embora também haja a certeza de que morrerá. Mas quem pode ter essa certeza? Quem poderá dizer que a Providência não reserva um inesperado meio de salvação para o momento mais crítico? Não poderia ela salvar mesmo aquele que se achasse diante da boca de um canhão? Pode muitas vezes dar-se que ela queira levar ao extremo limite a prova da resignação e, nesse caso, uma circunstância inopinada desvia o golpe fatal. – São Luís. (Paris, 1860.)[2]

 

- Sempre lembro daquela noite, “Nanda”, em que o nosso menino foi alvejado pelas costas, de forma covarde, ao voltar da escola. Ao longo dos anos, tenho confiado que se Deus assim permitiu foi o melhor para ele.

- Eu também tenho curado as chagas do meu coração materno com essa fé de que o Rodrigo deveria passar pela prova da desencarnação prematura por razões que só a Providência conhece.

- Mas quando ouço a Nice e o Valdinho falarem sobre a minha responsabilidade na segurança de vocês, eu fraquejo e chego a pensar se realmente não os expus em demasia naqueles eventos.

- O benfeitor Carlos, contando com a presença de Antonia, emitia vigoroso fluxo energético na direção do centro de forças cardíaco de Nivaldo e Fernanda, favorecendo o equilíbrio das emoções do casal a fim de que durante o sono do corpo físico estivessem permeáveis às orientações para as próximas decisões a serem tomadas.


Referências:

[1] Ibidem.

[2] Allan Kardec. O evangelho segundo o espiritismo (p. 117). FEB Publisher. Edição do Kindle.” Bem-aventurados os aflitos”

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