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A Casa do Pai (Parte 2)

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Quantas vezes rogamos por algo que, no fundo, não é o melhor para nós? Nossos desejos são voláteis. O que hoje nos parece essencial, amanhã pode revelar-se equivocado. O tempo é o grande revelador das intenções. Daí o valor da oração serena, desprendida, que diz: “Pai, seja feita a Tua vontade.” Como uma criança que confia na sabedoria de seus pais, mesmo sem compreender, também nós devemos confiar na Providência que guia cada passo da nossa trajetória.

É próprio do narcisismo infantil humano colocar-se no centro do processo e direcionar-se ao Criador, ditando-lhe o que parece ser o necessário para si, como se as Leis Divinas pudessem se dobrar a caprichos e preferências pessoais. Sabemos que os nossos desejos se modificam em curto espaço de tempo. O que nos parece essencial em um momento, modifica-se de imediato tão logo o panorama da vida se mostre diferente e ofereça a visita do inesperado. Quantas vezes, algo que parece indispensável à felicidade, deixa de ser necessário e importante em virtude de acontecimentos e experiências que modificam a nossa visão e a nossa opinião. Assim também os filhos pedem benefícios para o pai ou para a mãe imaginando que aquela concessão trará felicidade. As recusas dos adultos responsáveis poderá parecer um mal, no entanto, o limite, ou um não, pode proteger o filho, evitando grandes males, o que mais tarde poderá ser reconhecido, quando, mais amadurecidos, os filhos compreenderão as razões dos pais. 

Quando se pede em oração e não se obtém é porque o pedido é insensato, de pequeno alcance. Talvez por isso a oração mais inteligente seja aquela que parte da ideia do seja feita a vossa vontade. 

Por isso, a Lei da Reencarnação é uma bênção: concede ao Espírito tantas oportunidades quantas forem necessárias ao seu progresso. Não há perda, não há exclusão, não há condenação definitiva. O destino de todos é a Casa do Pai, o lar da plenitude espiritual, onde enfim reconheceremos nossa filiação divina e nossa herança eterna: o Amor.


A FESTA DO RETORNO 

Quando o Pai ordena aos servos: trazei depressa a melhor túnica, colocai um anel em seu dedo e sandálias nos pés, ele não apenas celebra o regresso de um filho físico, mas assinala a reintegração de uma consciência desgarrada à sua verdadeira identidade espiritual.

Para Emmanuel, a túnica simboliza a dignidade resgatada pelo arrependimento sincero; o anel, a reintegração nos vínculos eternos do amor e da filiação divina; e as sandálias, o reinício da caminhada com segurança moral. Esses três elementos traduzem não apenas um gesto de acolhimento, mas o testemunho do perdão Divino que se dá, não por palavras, mas por restauração. O perdão de Deus não humilha — ele dignifica.

Na leitura espiritual da vida, o erro não é fim, mas meio. Por isso, conforme Emmanuel (2009) acentua em O Consolador, “a dor é o agente sagrado que opera a retificação no templo da alma”. O Filho Pródigo experimenta o extremo da escassez para, no vazio do mundo, reencontrar a plenitude do espírito.

Para Joanna de Ângelis, em sua abordagem psicológica profunda da alma, essa parábola é uma metáfora arquetípica do retorno ao Self. O Filho Pródigo simboliza o ego separado da centelha divina, que busca fora o que só encontrará dentro. Sua jornada é o exílio existencial do ser, que, ao tocar o fundo do sofrimento, se vê compelido a voltar à origem. O Pai é o Self, o Eu divino em nós, que aguarda ser redescoberto, não como ideal externo, mas como presença íntima, viva, permanente.

A Casa do Pai é, nessa visão, o centro da alma. O afastamento é ilusório; o regresso, inevitável. Como ensina Joanna em Jesus e a Atualidade (2011): “Todo ser humano carrega a saudade de Deus, uma inquietude profunda que somente a comunhão com a Vida Maior pode aplacar.”


O IRMÃO QUE FICA — A ESTAGNAÇÃO MORAL

É necessário também deter o olhar sobre o filho que permanece. Ele representa uma categoria de Espíritos que já deixaram para trás os excessos da animalidade, mas ainda não se desvencilharam da rigidez emocional. São aqueles que se esforçam pela retidão, mas sem ternura; que cumprem os deveres, mas sem se abrirem à compreensão.

André Luiz nos mostra, em Nos Domínios da Mediunidade (2005) e Obreiros da Vida Eterna (2006), que o progresso espiritual não se mede apenas pelo esforço, mas pela capacidade de amar. Sem a caridade como norma de conduta, mesmo os mais sinceros servidores podem cair em perturbações de orgulho ou vaidade. O irmão mais velho representa esse risco. Ele é o retrato da fidelidade sem alma, do mérito sem misericórdia.

O que lhe falta não é justiça, é sentimento. Seu ciúme e sua raiva não são apenas sinais de egoísmo, mas revelam o conflito interno entre a rigidez da norma e a leveza da espontaneidade. Ele não entende a festa porque não aprendeu ainda que, no Reino de Deus, há mais júbilo por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove que nunca se extraviaram (cf. Lucas 15:7).

O Pai, mais uma vez, convida: “Filho, tudo o que é meu é teu”. Ou seja: a herança divina está disponível a todos que permanecem na casa.


A EVOLUÇÃO COMO INTEGRAÇÃO – O FILHO, O IRMÃO E O PAI DENTRO DE NÓS

Quando olhamos mais profundamente para os três personagens centrais, notamos que todos coexistem dentro de nós. Somos, muitas vezes no mesmo dia, o filho que deseja o mundo, o irmão que julga os erros alheios e o pai que anseia por perdoar. Essa integração interior é o objetivo do processo evolutivo: sermos inteiros, não fragmentados.

Como afirma André Luiz (2003), “a mente é o espelho da vida em toda parte”. E esse espelho reflete, conforme o nosso nível vibratório, os impulsos, os raciocínios e os sentimentos mais elevados. Na medida em que crescemos espiritualmente, passamos a governar os andares da casa mental com mais equilíbrio, sem negar nenhum deles, mas harmonizando-os.

O Pai da parábola não despreza o filho pródigo por seus erros nem o outro filho por sua revolta. Ele acolhe ambos, ensinando que a convivência é o grande campo da evolução do Espírito. Emmanuel (2009) nos recorda que “a família é o cadinho de onde saem os metais da alma purificados para o serviço divino”.

Assim, essa parábola é também uma lição de convivência — entre nossos aspectos internos, entre os membros da família humana, entre os diversos estados de consciência. Somos todos viajores da eternidade em direção à casa do Pai. Às vezes, precisamos nos perder para encontrar. Noutras, precisamos nos indignar para amadurecer. Mas em todas as fases da alma, há uma luz acesa esperando nosso retorno.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FRANCO, Divaldo Pereira (psicografia de Joanna de Ângelis). Jesus e a Atualidade. 21. ed. Salvador: Livraria Espírita Alvorada Editora (LEAL), 2011.

XAVIER, Francisco Cândido (psicografia de André Luiz). No Mundo Maior. 1. ed. Brasília: Federação Espírita Brasileira (FEB), edição especial, fev. 2003.

XAVIER, Francisco Cândido (psicografia de Emmanuel). O Consolador. 34. ed. Brasília: Federação Espírita Brasileira (FEB), 2009.

XAVIER, Francisco Cândido (psicografia de André Luiz). Nos Domínios da Mediunidade. 36. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Obreiros da Vida Eterna. 38. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006.


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