Atendimento Fraterno pelos caminhos da Inclusão
- fergs
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Sonia Hoffmann
Atividade que pode e deve ser fundamentalmente inclusiva e includente, o atendimento fraterno caracteriza-se por um diálogo interativo e construtivo entre o trabalhador da instituição espírita (habilitado para a tarefa) e alguém que traz suas dúvidas (existenciais, filosóficas, morais...), anseios, questionamentos, conflitos e perplexidades com os acontecimentos em seu mundo interno e externo.
Entendido como uma tarefa de caráter social, sem jamais assumir a função de terapia psicológica, procura receber bem, orientar com segurança e esclarecer o indivíduo A luz do Espiritismo. É campo de trabalho solidário e recíproco, irmanando-se atendente e atendido (Federação..., 2010).
No momento de escutatória fraterna, sensível e compreensiva, diferenças de valores, posicionamentos e entendimentos precisam ser hábil e sigilosamente acolhidos pelo atendente para que indicações e orientações doutrinárias sejam ofertadas com efetividade e eficiência, sem a tentativa de induzir a pessoa atendida a tornar-se espírita.
Não garantindo curas ou expressando "certezas absolutas" sobre as decisões e escolhas que a pessoa, somente pelo seu livre-arbítrio, deva adotar, o atendente apenas ajuda as pessoas a redirecionarem suas atitudes e comportamentos em função de uma melhor compreensão das dificuldades a que estão submetidas e a adotarem atitudes mais favoráveis à harmonização íntima de que precisam (Miranda, 2018).
A pessoa, contudo, anseia não somente por acolhimento amoroso, mas igualmente por interação confiante e confiável, por um ambiente físico e relacional adequado para manifestar-se e expressar-se com segurança, conforto e no qual se perceba olhada, ouvida e reconhecida como ser em evolução. Para tal ocorrência, portanto, necessário que o tarefeiro tenha real conhecimento de como proceder no acolhimento das peculiaridades de quem busca por este recurso quando apresenta alguma deficiência, neurodivergência, transtorno ou qualquer outra diferença (in)visível.
Novos circuitos de sensibilidade e necessidade (acrescentamos circuitos de estratégias includentes) precisam ser desbravados. O ser humano traz o coração do outro para si, sem que o encontro seja regido por convenção ou protocolo social e sim pura e simplesmente pelos ditames do coração (Galvão, 2022).
Importante, no encontro para o atendimento, atenção e observação quanto a identificação e repercussão das especificidades vivenciais e condição atual como Espíritos em oportunidade de melhoramento moral e intelectual. Tais providências auxiliam para os encaminhamentos serem realizados com proveito, pois alguns procedimentos indicados como assistência a palestras, estudos doutrinários, passes, por exemplo, talvez precisem ser realizados com ajustamentos e dentro das verdadeiras possibilidades daquele ser em busca de auxílio e cooperação.
Sendo assim, a conduta é de não restringir a pessoa ao resultado de um laudo médico, definida a uma condição de expiação, prova ou missão e sim em processo evolutivo como todos se encontram na trajetória das humanidades.
É significativo que o acesso ao espaço do atendimento fraterno esteja em plena condição de receber qualquer criatura, nas mais distintas idades ou situações. A porta deve possibilitar a passagem de cadeira de rodas, andador ou algum outro recurso de mobilidade. Degraus e escadas precisam ser abolidos, sendo substituídas por rampas para o deslocamento de crianças, idosos, gestantes e quem apresenta impedimentos motores. Útil que as rampas tenham corrimão em duas alturas, pois assim pessoas com diferentes estaturas são beneficiadas. Indicado que as cadeiras e o mobiliário sejam ergonômicos, oferecendo conforto e bem-estar na acomodação, dimensão de largura e altura, com apoio lateral e firmes para deslizamentos e desequilíbrios serem evitados.
A iluminação deve ser de boa qualidade, sem excesso para mais ou para menos: ambientes muito iluminados confundem tanto quanto aqueles em penumbra, não permitindo ótima visibilidade da expressão facial, labial e comportamental. Ventilação e temperatura precisam estar equilibradas, pois ambientes muito quentes tornam-se desconfortáveis e aqueles muito frios podem causar rigidez, dores e doenças respiratórias (como na fibromialgia, artrites, por exemplo).
Caso seja necessária a colocação de ventilador ou acionar o aparelho de ar-condicionado, deve ser evitada a formação de uma barreira de som entre o interlocutor e o atendente. Esta barreira pode distorcer a captação da informação, prejudicando a quem apresenta dificuldade auditiva ou de interpretação decodificar o conteúdo da conversação.
Ambiente ruidoso e muito ornamentado causa desconcentração no diálogo, pode acontecer pouco ou nenhum entendimento por quem apresenta alteração auditiva - isto traz constrangimento para a pessoa. Esta medida precisa ser adotada também para com todas as pessoas, pois muitas podem apresentar comprometimentos não visíveis (como a misofonia ou aversão e extrema sensibilidade a ruídos comuns). Um local próximo ao atendido para a colocação de bengalas, muletas e outros dispositivos de locomoção precisam ser providenciados, pois deste modo a pessoa sente-se confiante de que seus instrumentos podem ser alcançados somente no momento que necessitarem e não ficarem segurando ou manuseando os mesmos sem propósito definido.
Recursos de escrita, desenho ou algo que ajude alguém a se expressar quando a comunicação falada seja difícil precisa ficar disponível. Há quem simplesmente não consegue se manifestar de outro modo e também serve como recurso de autorregulação. Esta é uma providência bastante adotada para crianças, alguém no espectro do autismo, por exemplo. Porém, pensar que este recurso seja bem aplicável quando o atendido é surdo, não condiz com a verdade em todos os casos porque muitas pessoas surdas desconhecem a escrita por terem a língua de sinais como sua única maneira de expressão. Neste caso, é importante ou que o atendente tenha conhecimento da língua de sinais ou que a conversação seja mediada por intérprete, que também precisa garantir o sigilo e confidencialidade.
Almofadas devem estar disponíveis para que pessoas com dores musculares e mesmo articulares possam ficarem bem acomodadas.
Quando uma pessoa tem seu primeiro contato com o atendimento fraterno, o atendente deve explicar o que é, sua dinâmica e antecipar a sequência da entrevista com a finalidade de afastar a ansiedade e até possível angústia ou crise. Este recurso é importante para quem se encontra no espectro do autismo, com deficiência visual, exemplificadamente.
Muitas outras indicações e sugestões inclusivas se aplicam neste olhar individualizado. Porém, não é possível em um único artigo abranger todas as possibilidades e tampouco afirmar que somente estes são os alertas e sinalizações para o atendimento acontecer com o maior e melhor resultado possível. O mais importante de tudo é haver uma atitude fraterna, empática, com simplicidade, naturalidade e diálogo esclarecedor.
Referências
FEDERAÇÃO ESPÍRITA DO RIO GRANDE DO SUL. Atendimento espiritual no centro espírita. 4. ed. Porto Alegre: Francisco Spinelli, 2010.
GALVÃO, Lúcia Helena. A lógica e a inteligência da vida: reflexões filosóficas para começar bem o seu dia. São Paulo: Planeta do Brasil, 2022. [livro eletrônico]
MIRANDA, Manoel Philomeno de (Espírito). Atendimento fraterno. 11.ed. Psicografia de Divaldo Pereira Franco. Salvador: Editora Leal, 2018.
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