Assistência dos Espíritos Protetores: algumas aprendizagens
- fergs
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Vinícius Lima Lousada[1]
Os Espíritos protetores das coletividades são de natureza mais elevada do que os que se ligam aos indivíduos?
“Tudo é relativo ao grau de adiantamento das massas, assim como dos indivíduos.”[2]
Allan Kardec, ao apontar o foco da Ciência para o mundo dos Espíritos, deu-nos as bases para compreendermos, com lógica positiva, as relações naturais daquele com o mundo corporal, revelando-nos a ação solidária e fraternal dos Espíritos que atuam como anjos da guarda, Espíritos protetores, familiares ou simpáticos, sem descurar da influência negativa dos Espíritos inferiores. Aliás, bem lembra o benfeitor Manoel Philomeno de Miranda: “Quando os seres humanos compreenderem que o mundo é feito de ressonâncias, os seus pensamentos e condutas obedecerão a diferente critério seletivo.”[3]
Os Espíritos domiciliados na carne e aqueles já projetados no além-túmulo, ainda que em faixas vibratórias de vida diferentes, gozam da possibilidade natural de intercomunicação, por meio do pensamento que, em raios sutis, navega pelo fluido cósmico universal e projeta-se à distância, como ocorre com o som que se propaga pelo ar. Entretanto, para o pensamento — e para os fluidos onde ele incide e navega — não há barreiras, de tal modo que, em cada ser, diríamos, “reside” uma estação transceptora de pensamentos, ideias, vontades e desejos, que projetamos de uns para os outros; e, o que advém dos outros, cada qual capta para si, conforme processos naturais de sintonia, alicerçados em sua própria natureza moral.
Ao estudarmos O Livro dos Espíritos, somos despertados para o entendimento de que todos temos Espíritos amigos que se responsabilizam por nós outros — verdadeiros avalistas de nossa reencarnação — que Kardec denominou de anjos da guarda ou Espíritos protetores, inscritos em uma ordem mais elevada do que a de seus tutelados. É de bom alvitre lembrar que o aproveitamento dessa convivência depende do esforço de cada indivíduo em, pela educação do seu caráter, encontrar sintonia para bem captar as inspirações de seu guia espiritual.
Em A Revista Espírita do mês de janeiro de 1859, Kardec registra uma comunicação espontânea sobre o tema, que compartilhamos para nossas reflexões:
Se há uma doutrina que, pelo seu encanto e doçura, deveria converter os mais incrédulos, é a dos anjos da guarda. Pensar que tendes sempre ao vosso lado seres que vos são superiores, prontos sempre a vos aconselhar e amparar, a vos ajudar a escalar a áspera montanha do bem, e que são amigos mais firmes e mais devotados do que as mais íntimas ligações que possais contrair na Terra, não vos parece uma ideia muito consoladora? Esses seres estão ao vosso lado por ordem de Deus. Foi Ele quem os colocou perto de vós; aí estão por amor a Ele, desempenhando uma bela, porém penosa missão. Sim, onde quer que estejais, vosso anjo da guarda estará convosco; cárceres, hospitais, lugares de devassidão, solidão, nada vos separa desse amigo a quem não podeis ver, mas do qual vossa alma sente os suaves impulsos e ouve os mais sábios conselhos.[4]
Pensemos nisso: todos temos ao nosso lado um amigo no Mundo dos Espíritos que, por determinação do Pai Celeste, convive e trabalha pelo nosso progresso, assistindo-nos em nossos trabalhos e lutas renovadoras. Inspiram-nos e aconselham-nos boas resoluções, onde quer que estejamos. Essa consoladora ideia faz-nos compreender, também, que, assim como os benfeitores se ligam aos seus tutelados individualmente, conectam-se igualmente às coletividades, a fim de cooperarem com sua evolução espiritual.
Tal fato espírita, que compreendemos, merece mais acuradas meditações e nos leva às anotações do Espírito Manoel Philomeno de Miranda, no primeiro capítulo da obra No Rumo do Mundo de Regeneração. A obra refere-se ao trabalho da espiritualidade, conforme o recorte das vivências às quais teve acesso o nobre Espírito e, segundo o registro mediúnico de Divaldo Franco, à assistência a encarnados e desencarnados durante o período em que a pandemia da COVID-19 emergiu em nosso planeta.
Residente em comunidade espiritual próxima à Terra, narra o benfeitor que assistia, à distância, nosso planeta azul cercado de fluidos densos, originados da qualidade da vida mental de seus habitantes. Naquele momento, pôde identificar ações dos Espíritos visando desanuviar o ambiente global, saturado de fluidos espirituais demasiadamente densos e enfermiços, em que se inseriam as comunidades terrícolas.
Conta o autor espiritual que, após determinado alerta emitido em sua cidade espiritual, reuniram-se grupos de Espíritos desta e de outra comunidade para ouvirem a palavra lúcida de seu coordenador, considerando aquele período de provações coletivas que se abatia sobre a Terra. Conforme narra Miranda, o benfeitor Antúlio estabeleceu um discurso em torno do cenário vivido no ambiente terrestre e observou que a pandemia viera em um contexto de crise moral da humanidade — não como um castigo divino, mas como resultado de um complexo de escolhas individuais e coletivas que culminaram naquele processo, repleto de tanta luta pela vida e em prol da dignidade do ser humano, onde os apelos da solidariedade viriam sensibilizar os corações.
Naquelas circunstâncias pandêmicas, em que se ressaltavam as feridas morais da humanidade, com sofrimentos constituídos por ações individuais e coletivas, aquele contexto era identificado, pela Vida Maior, como um cenário de indispensável intervenção caritativa das equipes espirituais, que vibravam em campo de atuação mais próximo ao nosso. Estávamos experimentando, coletivamente — do ponto de vista da Espiritualidade Amiga — a lição amarga do transitório mal que traz consigo o remédio. Vivíamos um momento em que, sob a ótica espiritual de nossas lutas, se afirmava plena a recomendação dos Espíritos, registrada por Kardec: “A fé é o remédio certo para o sofrimento; mostra sempre os horizontes do infinito diante dos quais se esvaem os poucos dias sombrios do presente.”[5] Na fé raciocinada, produzimos sentidos mais profundos da existência e, nela, encontramos ânimo para seguir em nossas provas e estender as mãos aos que sofrem mais do que nós mesmos, em exercícios necessários e libertadores de altruísmo.
A solidariedade entre os dois mundos — espiritual e corporal — há de ensinar-nos alguma coisa. Sensibilizados pela grande Lei de Solidariedade que une todos os seres, como um dia afirmara o notável Léon Denis[6], e evidenciada na ação beneficente dos Espíritos protetores, como nos registros de Kardec e de Miranda aqui elencados, somos convidados a refletir sobre o amparo amoroso da Providência Divina em nosso benefício. Através dos Espíritos amigos, Deus assiste as criaturas, fomentando o emergir da Lei do Amor nos seres mediante as ações de auxílio, orientação e reeducação que promovem.
Referências:
[1] Vice-Presidente Doutrinário da Fergs.
[2] KARDEC, Allan. O livro dos espíritos (pp. 329-330). FEB Publisher. Edição do Kindle, questão 520.
[3] FRANCO, Divaldo. No Rumo do Mundo de Regeneração. pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. Salvador/BA: LEAL. Edição do Kindle.
[4] KARDEC, ALLAN. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos: Ano segundo – 1859/publicada sob a direção de Allan Kardec; [tradução de Evandro Noleto Bezerra; (poesias traduzidas por Inaldo Lacerda Lima)]. – 4.ed. – 1.imp. – Brasília: FEB, 2019, p. 43.
[5] KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo (pp. 85-86). FEB Publisher. Edição do Kindle, Cap. V, item 19.
[6] DENIS, Léon. O grande enigma (Coleção Léon Denis) (p. 29). FEB. Edição do Kindle. Primeira Parte, cap. III.
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