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Funções Materna e Paterna (Parte 2)

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    fergs
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No artigo anterior, analisamos as funções materna, paterna e o modo como o ambiente influencia, mesmo antes do nascimento - o ambiente intrauterino-, no desenvolvimento do caráter e da personalidade do Espírito que retorna para uma nova existência, a partir das interações com os adultos que o cercam.

Voltando à parábola dos dois irmãos podemos pensar que o pai exerceu, junto ao filho pródigo, uma atitude “suficientemente boa” porque o recebeu de modo empático e acolhedor, exatamente da maneira como este necessitava na sua intimidade para continuar o desenvolvimento de suas aptidões a partir das experiências que acumulara. Em outras palavras o pai foi “uma mãe suficientemente boa”, porque essa designação não se refere ao sexo propriamente dito e sim a função emocional da atitude afetiva.

Não é apenas na condição de bebê que acontece a experiência do desenvolvimento, e sim também ao longo da vida toda, pois o ser humano continua necessitando de braços acolhedores “suficientemente bons” a fim de continuar sua vocação de crescimento e progresso. Podemos dizer que só há des+envolvimento mediante o envolvimento de um ser com outro, uma vez que ninguém se desenvolve sozinho.

Por outro lado, a denominação de “suficientemente bom” de Winnicott é por demais oportuna, porque pressupõe a ideia de que deve ser apenas “suficientemente bom”, ou seja, que não atenda no extremo de uma gratificação excessiva, ou além do que convenha. Poderíamos conceber a noção de que essa gratificação é mediada por pitadas de realidade, ou que contenha algum grau de incompletude, exatamente para não anular o potencial de desenvolvimento do outro, que sendo atendido totalmente de fora para dentro, ficaria infantilizado. 

O pai corre para seu filho, o abraça e beija. Ele sabe que está retornando, não o mesmo filho que saiu, mas um filho em plena via de trans+formações. Um filho que vivenciou duras experiências, que foi arrebatado de sua ingenuidade infantil, que teve de se dobrar à realidade e retorna envergonhado, pedindo amparo. Ele retorna fecundado pela humildade, a primeira e mais importante das virtudes, pois sem ela nenhuma outra tem possibilidade de surgir.

O pai da parábola sabe empaticamente que o filho que retorna não necessita se sentir culpado e sim amparado, porque nesse momento de sua vida ele está construindo algo genuinamente novo dentro dele: um aprendizado que somente com a experiência se consegue realizar. Não há conhecimento teórico anterior, ou qualquer tipo aconselhamento que possa atingir o verdadeiro saber. Com a teoria podemos conhecer, mas somente com a vivência alcançamos o saber.

É por esse motivo que muitas pessoas detentoras de valiosos conhecimentos, eventualmente, surpreendem com atitudes inesperadamente contraditórias em face do que conhecem, porque é no viver, no experimentar a realidade, que o saber é verdadeiramente gestado e constituído. Se o pai o tivesse culpado ou mencionado algum tipo de crítica no momento que o filho voltou, isso seria uma humilhação em relação a ele. Serviria para diminuí-lo e acarretaria mágoa e ressentimento. A culpa já vinha na bagagem do próprio filho, precisava de outro tipo de experiência para evoluir.

Acolher é a única atitude pertinente e suficiente para o progresso.

 

A FUNÇÃO PATERNA

Um outro conceito muito importante em Winnicott é o de função paterna, que tem como característica mais marcante a apresentação da realidade. Novamente, aqui, função paterna nada tem a ver com o sexo, ou seja, tanto um homem como uma mulher podem exercer, e se espera que tenham desenvolvido essa função que diz respeito à capacidade de perceber a realidade em si mesma.

 

Seriam incluídas as funções paternas, complementando as funções da mãe e a função da família, com sua maneira cada vez mais complexa (à medida que a criança fica mais velha) de introduzir o princípio de realidade, ao mesmo tempo que devolve a criança à criança.

(Winnicott D. 2021 - pág. 22)

 

Um amigo me disse, alguns meses depois do nascimento de sua filha, quando ela pela primeira vez agarrou o dedo dele com aquela pequenina mão: girou uma chave na minha cabeça! Ele não era mais o mesmo depois daquele fato. Nasceu nele um pai. Deveria cuidar de alguém mais do que a si mesmo. Não tinha mais o direito de não fazer nada na vida ou de ficar em dúvida sobre o que gostaria de viver. Já estava definido, trabalharia sem vacilar porque alguém agora dependia totalmente dele. A necessidade de ser cuidado deu lugar, instantaneamente, a um impulso incontrolável de cuidar, de prover, de proteger.

É a função paterna.

Ele não existiria mais apenas por si mesmo a partir de agora, não estava mais sozinho no mundo, nunca mais teria o direito de fazer o que bem entendesse de sua vida, morria ali um homem para dar nascimento a outro, totalmente vulnerável e cheio de medos porque poderia falhar. Seu sono ficaria comprometido com um horário para acordar no dia seguinte. Não poderia mais dormir completamente sossegado. A partir de agora, estaria sujeito a acordar a qualquer momento. Até então, jamais se colocaria frente a alguma agressão ou a algum risco, porém, agora, se sua filha estivesse correndo algum perigo, enfrentaria um leão sem pestanejar.

Aquele pequeno ser apenas segurou, sem saber, o seu dedo… e desencadeou tudo isso.

A função paterna já estava lá à espera de ser despertada.

Aquele pai, que um dia consentiu ao filho que ele fosse, nunca deixou de esperá-lo. Todos os dias na aldeia foram dias de espera. Nunca foi atrás do filho, pois isso seria invadir a liberdade dele ter as próprias experiências, seria violar a sua liberdade de descobrir suas potencialidades. Todavia, todos os dias, olhava para a estrada para ver se o filho estava voltando. É o amor de quem tem esperança, mas é também o amor de quem confia. Um bom pai confia no seu filho, e este cumpre a expectativa do pai, porque sempre teve esse pai de amor dentro dele, mesmo quando parecia estar perdido. E o pai dá uma festa para ele.

15:22 Disse o pai para os seus servos: Trazei para fora a principal estola e vesti-o, dai um anel para a sua mão e sandálias para os pés.

15:23 Trazei o novilho cevado, sacrificai-o e nos deleitemos, comendo-o,


Na festa do retorno, o filho se reencontra no pai porque o pai se encontra no filho.

De que Pai também estamos falando?

Assunto para novas reflexões.

  

BIBLIOGRAFIA

 

Houzel, D. (2018). La bisexualité psychique et sa fonction contenante. Journal de la psychanalyse de l'enfant, Vol. 8(1), https://doi.org/10.3917/jpe.015.0015.

Winnicott D. (2021) Tudo começa em casa. São Paulo. Ubu Editora.

Xavier. Francisco C. pelo Espírito André Luiz. Missionários da Luz. 45ª edição, 1ª imp. Brasília. FEB, 2013.

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