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A presença de Sepé


Por Vinícius Lima Lousada

Diz o filósofo iluminista Voltaire, em seu Dicionário Filosófico voltado ao esclarecimento do povo (no século XVIII), que “Todos os povos escreveram a sua História, desde que o puderam fazer.” Os povos originários contaram a sua, nas tradições orais ou nos registros do que puderam produzir ou através de arqueólogos e historiadores que, de seu trabalho acadêmico, têm nos legado a possibilidade de reconhecer outros modos de conviver com a grande família humana, a Mãe Terra e a própria História da formação cultural do povo brasileiro. Por outro lado, nunca emergiram como hoje, não sem lágrimas, escritores, ativistas culturais e acadêmicos filhos dos povos indígenas trazendo a sua voz, o pensamento de sua matriz étnica, resistindo ao silenciamento de suas epistemologias.

Ainda que se demore, de um jeito ou de outro, o tempo e a inteligência humana vão contribuindo, não sem o suporte da Providência Divina, com a revelação de aspectos da História, enquanto campo científico, ignorados até então. Atualmente, a História tem trazido luz sobre essa importante personagem que marca nossas matrizes culturais no Rio Grande do sul, Sepé Tiaraju. Em entrevista, o professor e pesquisador Tau Golin afirma que “Mais de 260 anos depois da morte do líder guarani, há registros documentais importantes que permitem tirar das sombras essa história. (...) Hoje, temos uma documentação bem importante sobre a presença de Sepé Tiaraju. Além da documentação jesuítica, existem também diários de militares e relatos dos cartógrafos das expedições portuguesas e espanholas. Há uma imensa cartografia sobre esse período com registros sobre a geografia, os combates, as cidades missioneiras, sua arquitetura e vários personagens do conflito.” Essas referências evidenciam a presença de Sepé em nossa História e trazem elementos para compreendermos essa liderança da Guerra Guaranítica, inspiradora não somente aos povos das missões ou comunidades indígenas contemporâneas, mas de algum modo, a todos que meditam em torno do tema da liderança e da liberdade.

Doutro modo, a mediunidade também identifica vestígios para a compreensão sobre Sepé, assim como outros personagens ou fatos da História que merecem a nossa atenção. Aliás, ao estudar o tema da mediunidade, na catalogação de seus tipos, segundo o gênero e a particularidade das comunicações, Allan Kardec refere-se aos médiuns historiadores como aqueles que “(...) revelam aptidão especial para as explanações históricas. Esta faculdade, como todas as demais, independe dos conhecimentos do médium, porquanto não é raro verem-se pessoas sem instrução e até crianças tratar de assuntos que lhes não estão ao alcance. Variedade rara dos médiuns positivos.

Vejamos só, o nosso tratado de Espiritismo experimental aponta para esse tipo de mediunidade, onde o medianeiro tem facilidades para explanações históricas, algo raro, mas efetivo quando se dá. A mediunidade pode contribuir com vários campos do conhecimento, de certo já contribui de modo ignorado, e particularmente quando se fala da presença de Sepé.

No livro Sepé: o guerreiro da paz, ditado pelo Espírito Oscar Pithan, encontramos registros sobre esse abnegado benfeitor espiritual da casa máter do movimento espírita gaúcho e seus labores na vida espiritual.

Nosso irmão de ideal, Teltz Cardoso Farias, em entrevista que abre o livro, refere-se à assistência de Sepé junto ao patrono espiritual do Abrigo Espírita Oscar José Pithan presenciada por ele e outros médiuns há décadas e assim o define: “Nas reuniões mediúnicas normais e, particularmente nos trabalho desobsessivos, é o protetor incansável, o companheiro valente e preparado para os confrontos com entidades menos felizes e agressivas das regiões umbralinas onde ele, em nome de Jesus e de Maria, transita como verdadeiro ‘anjo-de-luz’. Um digno e nobre seareiro a serviço do bem e da luz, na reconstrução de inumeráveis vidas e destinos de irmãos desviados que não acreditavam mas em si próprios.

Observemos esse detalhe do trabalho de Sepé no além: o de reconstrutor de vidas de irmãos aturdidos por seus equívocos, descrentes de seus potenciais de filhos de Deus. Quantos de nós por ele não fomos socorridos nas experiências de luta evolutiva que tivemos nos dois planos da vida?

O médium Divaldo Pereira Franco, em visita a sede da federativa gaúcha, por sua vez, indicara: “Ele é o responsável por uma região do Estado, mas é membro da Diretoria Superior da Federação no além. (...) ele é membro do Conselho Superior da FERGS no Além, representando a história da liberdade do povo e o direito de liberdade de religião.” Meditemos, cada qual sobre isso, para ativarmos a nossa fé raciocinada e o espírito de serviço ao povo.

Evocamos a memória desses apontamentos sobre Sepé Tiaraju para recordarmos, junto da família espírita gaúcha, esse Espírito Superior - jornadeiro multimilenar de seu progresso espiritual - tão alinhado aos propósitos de Jesus para com a Pátria do Cruzeiro, junto ao povo simples, aos que sofrem nos dois planos da vida. Sua coragem moral, seu espírito de serviço e paciente pacificação, estribada na justiça e liberdade, devem nos inspirar na construção de nós mesmos e de ambientes regidos pela fraternidade.

E tratando desse valor humano, a fraternidade, recorda o mestre lionês que ela, além de resumir todos os deveres dos indivíduos, uns para com os outros. “(...) Significa: devotamento, abnegação, tolerância, benevolência, indulgência. É, por excelência, a caridade evangélica e a aplicação da máxima: ‘Proceder para com os outros, como quereríamos que os outros procedessem para conosco.’ O oposto do egoísmo.”

Por fim, voltemos a Sepé. Hoje foi o dia de sua desencarnação, no ano de 1756. Destaca ainda o historiador Tau Golin que, segundo relato do diário de Manoel Viana, governador de Montevidéu, Sepé foi golpeado por uma lança de um peão, sob o comando de Portugal. Logo após, foi preso pela cavalaria castelhana, e um padre que fazia capelania anotou em seu diário que o Cacique fora queimado com pólvora, torturado, portanto, antes de o governador citado dar-lhe o “tiro de misericórdia”. Foi decapitado, o corpo lançado no campo e a cabeça levada como prova do malfeito. Naquela fatídica noite para o povo guarani, o corpo foi recolhido pelos irmãos de etnia e enterrado ao lado de uma sanga cercada de mato.

Sepé partiu, há 264 anos, para prosseguir pazeando e trabalhando pela liberdade das consciências, noutro patamar, no da vida imortal junto à sua família espiritual.

Fica aqui registrada a nossa singela homenagem ao guerreiro da paz, amigo espiritual de nossa Federação, irmão querido de todos nós.

Referências

Revista IUH - on line de 31 de julho de 2017. Acessível em: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/570141-sao-sepe-o-tiaraju-e-o-apagamento-dos-indigenas-da-memoria-da-formacao-do-rs. Acessado em 07/02/2020.

KARDEC, Allan. O livro dos médiuns: ou guia dos médiuns e dos evocadores. item 193. (Fonte: https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/884/o-livro-dos-mediuns-ou-guia-dos-mediuns-e-dos-evocadores/967/segunda-parte-das-manifestacoes-espiritas/capitulo-xvi-dos-mediuns-especiais)

BARBIERI, Maria Elisabeth. Sepé - o guerreiro da paz. Pelo Espírito Oscar Pithan. Porto Alegre: Francisco Spinelli, 2017.

KARDEC, Allan. Obras póstumas. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2005, p. 287.

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