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Vida social inclusiva e adolescência




Sonia Hoffmann

 

Inclusão social é o processo pelo qual a sociedade se organiza para acolher e significar pessoas excluídas, oportunizando e equacionando condições para elas assumirem seus papéis em uma relação de protagonismo e parceria. Para esta prática se tornar uma realidade, necessária é a aceitação das diferenças como uma singularização da pessoa, a valorização de cada ser, o incentivo da convivência dentro da diversidade humana, a aprendizagem construída através da cooperação.

Sassaki (1999) pondera ser a diversidade humana representada pela nacionalidade, sexo e gênero, cor, religião, idade, raça e deficiência.

Neste espectro, o jovem precisa ser reconhecido e se reconhecer como cidadão de direito em qualquer das estruturas sociais (trabalho, educação, instituição religiosa, lazer... Tais objetivos serão conquistados pelo diálogo, pela organização conjunta de um projeto de relacionamento e desenvolvimento, pelo rompimento do individualismo e dos estigmas, pela ressignificação de opiniões e conceitos acerca das potencialidades e possibilidades de alguém diferente, pela melhoria e ampliação do contexto de inserção e pertencimento disponibilizado ao excluído, pelo entendimento da dinâmica do adolescer.

Joanna de Ângelis (2010), no livro Adolescência e vida, traz elucidações importantes a respeito do adolescimento na vida social:

"No período da adolescência, a vida social gira em torno dos fenômenos de transformação que afetam o comportamento juvenil. Assim, a preferência do jovem é por outro da mesma faixa etária, os seus jogos são pertinentes às ocorrências que lhe estão sucedendo no dia a dia. Há uma abrupta mudança de interesses, e, portanto, de companhias, que se tornam imperiosos para a formação e definição da sua personalidade. Não mais ele se compraz nos encantamentos anteriores, nas coleções infantis que lhe eram agradáveis, nem tampouco nas aspirações que antes o mantinham preso ao lar, ao estudo ou aos esportes até então preferidos." [...] "A sua socialização depende, de alguma forma, de relativa independência dos pais, de ajustamento à maturação sexual e dos relacionamentos cooperativos com os novos amigos que atravessam o mesmo estágio. Para conseguir esse desafio, o jovem tem necessidade de programar e desenvolver uma forma de filosofia de vida, que o levará à descoberta da própria identidade. Para esse desenvolvimento ele necessita saber quem é e o que deve fazer, de modo que se possa empenhar na realização do novo projeto existencial. Os pais, por sua vez, não devem impedir esse processo de libertação parcial, contribuindo mesmo para que o jovem encontre aquilo a que aspira, porém de forma indireta, através de diálogos tranquilos e amigos, sem a superioridade habitual característica da idade, facultando mais ampla visão em torno do que pode ser melhor para o desenvolvimento do filho, que deve caminhar independente, libertando-se do cordão umbilical restritivo." (Ângelis, 2010, p.38)

Esta tarefa de independização, entretanto, não se restringe somente aos pais, mas abarca todos que mantêm com o jovem alguma forma de relacionamento para que ele sinta-se visibilizado, acreditado e estimulado a expor e buscar novas maneiras de inclusão, no sentido de ser includente e se tornar incluído. A instituição espírita, a partir de um olhar inclusivo sobre o jovem e a juventude, precisa preparar-se e estar preparada para demandas das mais variadas ordens, se quiser ser exitosa no desenvolvimento e no fortalecimento moral daqueles situados na faixa etária juvenil.

Joanna de Ângelis, ainda no livro Adolescência e vida, aponta que "o materialismo, que infelizmente grassa, sem qualquer disfarce, na sociedade, que se apresenta em grupos religiosos, salvadas as naturais exceções, coloca suas premissas no comportamento das pessoas e as propele para a conquista hedonista, para o gozo material exclusivo, empurrando as suas vítimas para as fugas alucinantes, quando os propósitos anelados não se fazem coroar pelos resultados esperados. O adolescente, vivendo nesse clima de lutas acerbas e não havendo recebido uma base moral de sustentação segura, na vida física vê somente a superficialidade, o prazer mentiroso, a ilusão que comandam os comportamentos de todos, em terríveis campeonatos de loucura. Desfilam os líderes da aberração nos carros do triunfo enganoso, e muitos deles, não suportando a coroa pesada que os verga, são tragados pela overdose das drogas do desespero, que os retira do corpo mais dementados e atônitos do que antes se encontravam. Noutros casos, são consumidos pelas viroses irreversíveis, especialmente pela Síndrome de imunodeficiência adquirida, que os exaure e consome a pouco e pouco, tornando-os fantasmas desprezíveis e aparvalhantes para aqueles mesmos que antes os endeusavam, imitavam e buscavam a sua convivência a peso de ouro e de mil abjeções. O adolescente, cuja formação padece constantes alterações comportamentais, necessitando de apoio e de diretriz emocional, desejando viver experiências adultas, sem alicerces psicológicos de segurança, naufraga, sem forças, arrastado pelas poderosas correntezas dos grupos sociais, nos quais transita, grupos esses, quase sempre, constituídos por enfermos e desestruturados quanto ele próprio. Quando o lar se tornar escola de real educação, e a escola se transformar em lar de formação moral e cultural, a realidade do Espírito fará parte das suas programações éticas, sem o caráter impositivo de doutrina religiosa compulsivo-obsessiva, porém com a condição de disciplina educativo-moralizadora que é, da qual ninguém se poderá evadir ou simplesmente ignorar". (Ângelis, 2010, p.80-81)

Um jovem abastecido com informações seguras, orientações emancipadoras, liberto de preconceitos e culpas trazidas de equívocos reencarnatórios e culturais se torna mais resistente a apelos sociais e espirituais nocivos, enfrentando os desafios e as dificuldades com mais amadurecimento, desatando situações e ações excludentes com mais facilidade e ética. Portanto, a responsabilidade da sociedade adulta é imensa no auxílio da construção da identidade do jovem e de sua evolução social e espiritual.

Uma vida social inclusiva, com perspectivas e diretrizes bem definidas, atua como anteparo e colabora para a formação laboriosa, disciplinada e sadiamente edificante da juventude.

 

Referências:

ÂNGELIS, Joanna de (Espírito). Adolescência e vida. Psicografia de Divaldo P. Franco. [S.l.: S.n.] 2010.  Versão digital. Disponível em: https://www.luzespirita.org.br/leitura/pdf/l102.pdf. Acesso em: 80 jan. 2024.

SASSAKI, Romeu K. Inclusão social. In: ____ Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1999. p. 40-42.

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