Paralisia cerebral e estratégias de acessibilidades
Sonia Hoffmann
A Paralisia Cerebral (PC) é uma doença de caráter neurológico que afeta as funções básicas do ser humano (fala, postura e movimento), ocorrendo sempre o envolvimento motor causado por uma agressão (mal formação ou lesão) ao cérebro em desenvolvimento. Distúrbios sensoriais podem se associar, a inteligência está geralmente preservada, mas há casos que a deficiência intelectual acontece. A formação da PC pode ocorrer intrauterinamente, durante o parto, por algum acometimento perinatal ou na primeira infância.
Suas classificações são bastante heterogêneas. Conforme o envolvimento neuromuscular, os principais tipos de PC são espástica, atetoide e atáxica.
1 - Espástica: neste quadro (o mais frequente) existe um comprometimento do sistema Piramidal com a Hipertonia dos músculos. A espasticidade aumenta com a tentativa da criança em executar movimentos, fazendo com que estes se tornem bruscos, lentos e desordenados. Os movimentos são excessivos e as deformidades articulares se desenvolvem. Com o tempo e sem estímulos adequados, as contraturas podem se tornar fixas, determinando geralmente posições viciosas ou contraturas em padrão flexor.
2. Atetoide: o sistema extrapiramidal está comprometido; a tonificação muscular é instável e flutuante; os movimentos são involuntários e de pequena amplitude. Os movimentos em repouso são rápidos e involuntários aumentando conforme o movimento voluntário. O controle da cabeça é fraco, as respostas a estímulos são instáveis e imprevisíveis. Se instala um quadro de flacidez e de respiração anormal.
3. Atáxica: cérebro e vias cerebelares estão comprometidos. As características são falta de equilíbrio e de coordenação motora em atividades musculares voluntárias, sinais de tremor e dificuldade na articulação ou pronúncia de palavras. Há pouco controle de cabeça e do tronco. A fala é frequentemente demorada e indistinta, tipicamente com a boca aberta e salivação considerável.
A inclusão de alguém com paralisia cerebral é extremamente importante, sendo as estratégias funcionais de acessibilidades fundamentais, embora a PC não tenha cura, para a melhoria da sua qualidade de vida, facilitação na execução de atividades, enfraquecimento da intensidade de alguns comprometimentos e prevenção de possíveis deficientizações, pois a carência de experiências motoras, sensoriais, linguísticas e sociais poderá prejudicar a construção do seu esquema corporal e desencadear prejuízos no seu desenvolvimento global.
Importante que o facilitador observe as habilidades, vulnerabilidades e competências da pessoa com PC, dialogando com ela ou com seus pais (quando criança) para juntos construírem um plano de ação eficiente. Os recursos disponibilizados pela Tecnologia Assistiva precisam ser conhecidos pelo facilitador, tanto aqueles que a pessoa já utiliza quanto aos que poderão auxiliar na realização de movimentos de locomoção, escrita, fala e do conjunto de atividades psicomotoras.
O uso de tapetes emborrachados e antideslizantes é necessário, para a pessoa manter-se segura em seus deslocamentos. Barras, corrimão em duas alturas (para variação de estaturas), cadeiras com braços e com proteção para evitar o deslizamento são fundamentais. Pranchas com fixadores de papel, canaletas em torno de mesas para objetos não caírem com facilidade ou diretamente para o chão, engrossadores para lápis, canetas, pincéis, talheres e produtos de higiene são extremamente úteis e auxiliam na autonomia da pessoa para a realização de atividades. Cartões de comunicação alternativa são ajudas relevantes quando a pessoa não apresenta uma fala funcional ou bastante prejudicada, Dispositivos com ímãs para a mudança de páginas, correias com velcro (para a regulação do ajustamento) para a fixação do punho ou antebraço colaboram para alguém com PC escrever ou desenvolver qualquer outra ação que envolva a motricidade fina (domínio de movimento manual).
O facilitador precisa saber ouvir com atenção sem apressar a pessoa com PC para o término da sua fala. Também não deve constantemente antecipar a palavra, porque a pessoa pode ter mais lentidão e porque ela tem a necessidade de comunicar-se diretamente, melhorando assim tanto sua articulação de palavras como aumentando seu repertório comunicativo.
Essencial que a pessoa com PC realize, o máximo possível, as mesmas atividades que as demais pessoas e seus companheiros para ela sentir-se valorizada. Quando atividades ou brincadeiras precisarem ser modificadas, é bastante importante que sejam ofertadas igualmente para os demais e que a pessoa com PC não seja constantemente colocada como central ou que seus comprometimentos sejam evidenciados porque sua autoestima pode ficar fragilizada ou ela evitar de participar em atividades com o grupo, tornando-se resistente ou bloqueando sua personalidade.
Atividades cooperativas, jogos com mediação e experiências nas quais a pessoa reconheça seus êxitos e dificuldades são significativas porque ela consegue administrar melhor a sua condição. Sentindo-se participativa e pertencente ao grupo, ela tem fortes probabilidades para novos enfrentamentos, desafios e ampliação da rede social.
Referências:
SASSAKI, Romeu Kasumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. 3. ed. Rio de Janeiro: WVA, 1999.
TABAQUIM, Maria de Lourdes Merigle. Paralisia cerebral: ensino de leitura e escrita. Bauru: EDUSC, 1996.
Comments