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Ecologia, Inclusão e Psicoafetividade




Ecologia, ciência da casa, foi a palavra criada em 1866 pelo biólogo alemão Ernest Haeckel (Lago; Pádua, 1984). Atualmente, tal palavra não apenas designa uma disciplina científica, mas também identifica um amplo e variado movimento social. Esta identificação relaciona-se intimamente com o processo inclusivo, o qual pode ser reconhecido desde Jesus, pois a inclusão surge e se consagra exatamente no espaço social, na construção conjunta e dinâmica de toda uma reciprocidade e responsabilidade pelo viver de todos na imensa casa terrestre, sem a obrigatoriedade de sentir-se ou estar excluso porque se consolida por estratégias preventivas.

O pensamento ecológico, tal como a proposta includente, vem historicamente se ampliando e trazendo para a reflexão e o debate a extrema necessidade de proposições alicerçadas em diferentes posturas sociais que qualifiquem o convívio sadio no panorama da diversidade de vertentes, valores e experiências do ser humano, como elemento fundamental e valorizado de qualquer ambiente, desde o macrossistema ao microssistema no qual uma pessoa está presente e ativamente participante conforme sua possibilidade.

Uma conexão significativa entre inclusão e ecologia é o fato de ambas não terem homogeneidade quanto à aplicação de estratégias e existir uma pluralidade presente no modo, nos objetivos e no espectro de participações importantes para a conquista de um movimento exitoso na mudança cultural. Nem uma e nem outra se organizam solitariamente, mas são transversais às mais diversas ações da sociedade, buscando seu fortalecimento e progresso moral e intelectual com o aproveitamento de recursos e interesses saudáveis.

 As preocupações ecológicas, desde a dilapidação e poluição de determinado componente ou espaço ambiental, redundam em fortes causas de exclusões e na alteração da saúde seja de uma pessoa com deficiência ou com alguma diferença. Portanto, não é possível pensar em inclusão sem levar em consideração medidas intervenientes promotoras de um ecossistema externo ou interno do próprio ser. Da mesma maneira, a perspectiva ecológica não se desvincula de inclusão porque tudo e todos contribuem para a efetivação de programas e ações bem mais robustas quando provenientes da conscientização dos habitantes do planeta. A psicoecoafetividade precisa ser, então, também considerada na gestão de procedimentos inclusivos e ecológicos, porque o ser humano, como criação divina, traz em si componentes, elementos e uma constituição complexa, sensível e mutável, mas ao mesmo tempo capaz, habilidosa, resistente e engenhosa para a superação de dificuldades, constrangimentos e provocações.

O planeta está, todos os dias, apresentando profundas modificações e desafios para o viver e o conviver ecológica e inclusivamente, mas em momento algum se pode esquecer, como Joanna de Ângelis (2016) vem recordar, o quanto Jesus propôs e lançou as diretrizes para um programa do saneamento de tão perigoso estado de coisas da natureza exterior e daquela íntima: importante é preservá-la, abençoá-la, e utilizar métodos e técnicas da felicidade, da sobrevivência venturosa, estabelecendo "as bases para o reino de amor e harmonia, sem-fim, sem dores, sem apreensões..." (p.73)

Primordial é o entendimento de que, para evoluirmos sem colisões intempestivas e afundamentos em circunstâncias deletérias provocados pela nossa inobservância, imprudência e precipitação a fusão entre a inteligência e a afetividade de cada um precisa harmonicamente aprender a trabalhar em conjunto, sistemática e continuamente, para (auto)construir possibilidades e, como afirmam Jaume Soler e Maria Conangla (2011), "não destruirmos a nós mesmos, a espécie e nem o mundo em que vivemos. Para deter a destruição e a violência temos uma alternativa: recuperar urgentemente nossa sensibilidade e o respeito em relação a tudo e a todos, estejam próximos ou mais distanciados para um compartilhamento enobrecido.

Para tal, temos de entender o mais breve que, segundo Fernando Pessoa (2012), a vida é uma viagem experimental feita pelo Espírito através da matéria, como é o espírito que viaja, é nele (nossa casa ecológica e com vontade de ser inclusiva) que se vive. Logo precisamos cuidar dele como um valor precioso e mais do que isto, um presente de Deus para juntos alcançarmos a plenitude da felicidade. Vivências e explorações estão em nossa rota, através de todo um mundo a ser percorrido e todo um conjunto de caminhos internos úteis para nos (re)encontrar e alinhar com a proposta divina. Nessa trajetória evolutiva, ecologia, inclusão e psicoecoafetividade precisam se entrelaçar, mesclar e misturar para a composição do mais belo poema de amor à vida.

Por mais que possamos pensar na seleção, na organização e em efetivar estratégias acessíveis provindas de um movimento ecológico ou de ações includentes, se a atitude, que representa o sentimento e a valorização da vida em suas mais diversas expressões, não estiver direcionando estas mediações, teremos somente atos e procedimentos resultantes de um comportamento vago, pronto a se deteriorar com a passagem do tempo e de distâncias. A lacuna afetiva instalada não gera corresponsabilização, comprometimento ou desejo de investir na humanidade como propulsora de pertencimento e local evolutivo. Os laços se rompem com a maior facilidade, a consciência se deturpa e corrompe, o significado fica sem significante e a porta para a regeneração se distancia tornando a emancipação mais trabalhosa e arduamente forjada na aprendizagem que o equívoco traz.

Léon Denis (2008) conclui sua obra O grande enigma com uma informação e um convite para todos. Este mesmo convite coloca uma pausa neste artigo: "Grandes feitos se preparam. Que se ergam os trabalhadores do pensamento, se querem participar da missão oferecida por Deus a todos os que amam a Verdade e a ela servem." Somos copartícipes na construção universal, se não despertamos ficaremos aprisionados em um ciclo vicioso constituído por nós mesmos. Porém, alertas, amadurecidos e ativos, estaremos nos libertando para uma etapa virtuosa, livre de preconceitos, estigmas, prejuízos.

 

Referências:

ÂNGELIS, Joanna de (Espírito). Após a tempestade. 12. ed. Psicografado por Divaldo Pereira Franco. Salvador: Leal, 2016.

DENIS, Léon. O Grande enigma. Brasília, DF: FEB, 2008.

LAGO, Antônio; PÁDUA, José Augusto. O que é ecologia. Tatuapé: Brasiliense, 1984.

PESSOA, Fernando. Livro do Desassossego. Jaguaré (SP): Montecristo Ed., 2012. Coleção Clássicos da Língua Portuguesa, v.8) Formatação digital.

SOLER, Jaume; CONANGLA, Maria Mercé. Ecologia emocional. Rio de Janeiro: Best Seller, 2011.

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