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A VOLTA DO PEREGRINO


A debilidade das forças orgânicas começou a assinalar uma nova etapa na trajetória do nosso valoroso caravaneiro do Espiritismo.

Lutando contra a angústia que a restrição física lhe impunha, Francisco recebeu o convite fundamental, a fim de que a sua trajetória terrena se revestisse de utilidade para a sua alma imortal.

O servidor da Unificação olha o passado e a inquietação pelas sementes lançadas no largo trato de terra que lhe fora dado cultivar, ainda não haviam germinado. Era insipiente a união dos espíritas, muito tímida a implantação de núcleos organizados em cada localidade do estado, a adoção dos trabalhos de evangelização da infância e da juventude afigurava-se em um ritmo lento, debatendo-se com as incompreensões e o personalismo de muitos confrades.

Afligia-o a apatia de muitos estados do nosso Brasil, onde o ideal federativo era apenas um pálido reflexo do brilho que deveriam apresentar, como estrelas a luzirem na bandeira de Ismael.

O futuro acenava cheio de desafios para que a seara nova não se consumisse em meio aos espinheiros das polêmicas e das dissensões, tão ao gosto das imperfeições que retardam a marcha de seareiros valorosos, mas invigilantes.

Envolto na atmosfera destas preocupações busca, sob o travesseiro, o texto que escrevera há alguns dias e que trazia em suas linhas um viés sutil de decepção e o corrigiu de pronto, afugentando a sugestão de pessimismo, lembrando que o Reino de Deus deve começar no coração de quem trabalha pela sua implantação. Pensava Spinelli que se os vasos escolhidos pelo Senhor derramarem o fel do desânimo e da amargura, por onde passarem, não conseguirão edificar obras que atestem a eficiência do construtor.

Com muito esforço tentou erguer-se do leito, mas as dores o fizeram recuar. Sentia que a medicação já não fazia mais o efeito de antes.

Deixou-se ficar ali entre a vigília e o sono, em um torpor que chegara de repente. Percebeu o vulto conhecido e amigo que velava por ele e que sempre, nos sonhos, o exortava, deixando-lhe lembranças difusas, mas ideias claras que nos momentos mais difíceis afloravam-lhe à mente e que Francisco sabia, não lhe pertencerem, aprendendo a identificar o seu autor.

Era o venerando Dr. Bezerra de Menezes, que espalmando sua mão sobre o peregrino do evangelho, deixou que dela jorrassem filetes de luz que se espalharam sobre o leito do enfermo, asserenando-lhe as angústias.

Foi então falando, pausadamente, ao coração devotado, conquanto aflito:

- Filho! A tua tarefa está concluída. Cabe ao tempo o trabalho paciente de fazê-la estabelecer o sulco abençoado e caudaloso de labor no seio do Movimento Espírita. Plantaste todas as sementes que o Alto te confiou.

Francisco experimentava uma felicidade ímpar, as dores no peito cessaram, parecia flutuar acima do corpo alquebrado pela doença.

- Tu, meu filho, edificaste a igreja do Cristo, agora ela irá acolhendo, pelo tempo a fora, os peregrinos da dor, da ignorância, asilando os banidos da sorte e recebendo os felizes do mundo.

Por um instante, Francisco pensou em rogar mais um tempo na Terra, pelo menos até o final do seu mandato à frente da querida FERGS, repto que o Dr. Bezerra recebeu e respondeu:

- Nós não consertaremos o teu corpo físico, Francisco, pois ele não tem mais utilidade para ti. O compromisso férreo que sedimentas na alma devotada, quando ergastulado na carne produz dor pelas expectativas de realização e aflição intensa pela visão diferenciada e por isso mesmo, incompreendida.

Francisco tinha os olhos nublados pelas lágrimas, percebendo que o Mestre o convocava a cruzar outro oceano, o da imortalidade.

- Prosseguiu o Dr. Bezerra:

- É hora de transitares na espiritualidade sem as barreiras do tempo.

O corpo de Francisco acusou pequeno estremecimento. Estava sendo chamado de retorno à pátria verdadeira do Espírito.

Mas, pensava:

- Como deixar para trás a sua família? A companheira amorosa de tantas lutas? Seus amigos? Sua amada FERGS?

A dor voltou a constranger-lhe o peito, sufocando-o. Tentou respirar, sentiu que a visão lhe turvava.

Novamente, Bezerra falou-lhe:

- Peregrino! Vamos para a estrada. Não vais querer o trabalho de um leito macio, ou vais?

Aquele sorriso franco que cativava amigos e desarmava oponentes foi se desenhando no rosto abatido de Spinelli, que adquiria uma expressão serena, e aos poucos a dor foi desaparecendo.

O Dr Bezerra indagou-lhe bondosamente:

- Afinal! Francisco, não pregas a imortalidade da alma? Pois ela está livre.

- Vem comigo Francisco!

A madrugada quieta parecia traduzir uma sinfonia magistral, executada pelas estrelas que espiavam de longe o cortejo dos Espíritos luminosos a conduzir uma alma que retornava vitoriosa de suas lutas terrenas.

Era o dia 07 de outubro de 1956.

Francisco Spinelli, o “Caravaneiro da Fraternidade, o “signatário do Pacto Áureo”, o “Peregrino” da Unificação do Movimento Espírita voltava para casa.

O Espírito se intitula “O Secretário”

19 de novembro de 2017

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